Texto de Carmela Fialho
O documentário Lo que queda en el camino aborda a caminhada da guatemalteca Lilian e seus quatro filhos menores da Guatemala até a fronteira do México com os EUA. Os diretores Jakob Krese e Danilo do Carmo optam por fazer um documentário observacional acompanhando as diversas situações difíceis de Lilian ao escapar de um marido violento e partir para uma jornada incerta com seus filhos, sendo uma delas ainda uma bebê. Apesar das dificuldades encontradas pelo caminho, Lilian consegue sobreviver graças a ajuda de outras mulheres que assim como ela estão fugindo de situações de pobreza, exploração e desilusões amorosas.
Os diretores fazem a opção por revelar a personagem através de suas conversas com os filhos, as mulheres que cruzam o seu caminho e alguns homens que também buscam conhecer um pouco da sua história. Revelam através de conversas telefônicas para os EUA, que ela tinha um amante guatemalteco residente no Arizona , que pretendia recebê-la junto com seus filhos e que estava grávida de um filho desse homem.
A jornada é dura, muitas vezes com privação de alimentos, transporte e higiene. Os quatro mil quilômetros são intercalados com intertítulos que situam o espectador a cada avanço do caminho, como um cronometro de angustia, quando os imigrantes ilegais precisam permanecer, dias, semanas e até meses para conseguir avançar. As caminhadas a pé são longuíssimas com calçados inadequados que causam machucados tanto em Lilian quanto nas crianças. Às vezes recebendo auxílio médico de ambulâncias no México, que acompanham as grandes ondas humanas de pessoas vindas da Guatemala e outros países da América Central em busca de entrar clandestinamente nos EUA.
Apesar de ser um importante registro dessa situação de imigração ilegal, da dura realidade da América Central e seus habitantes que espoliados e desesperados buscam alguma saída para sobreviver e tentar chegar no tão sonhado EUA, o documentário peca por não aprofundar algumas questões levantadas, como a violência contra a mulher em uma sociedade machista. Também poderia ter esclarecido as questões políticas que impediram Lilian e seus filhos de chegar ao tão sonhado destino. Acerta ao registrar a exaustiva caminhada e muitas variantes que podem impedir até os mais obstinados de alcançar seus objetivos. O que fica pelo caminho são os sonhos que muitas vezes não podem se realizar, mas outras alternativas surgiram para Lilian e seus filhos.
Análise precisa, amiga!
ResponderExcluirTexto maravilhoso! Bravaaaa!
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