Pular para o conteúdo principal

LO QUE QUEDA EN EL CAMINO (2024) Dir. Jakob Krese e Danilo do Carmo


Texto de Carmela Fialho

O documentário Lo que queda en el camino aborda a caminhada da guatemalteca Lilian e seus quatro filhos menores da Guatemala até a fronteira do México com os EUA. Os diretores Jakob Krese e Danilo do Carmo optam por fazer um documentário observacional acompanhando as diversas situações difíceis de Lilian ao escapar de um marido violento e partir para uma jornada incerta com seus filhos, sendo uma delas ainda uma bebê. Apesar das dificuldades encontradas pelo caminho, Lilian consegue sobreviver graças a ajuda de outras mulheres que assim como ela estão fugindo de situações de pobreza, exploração e desilusões amorosas.  

Os diretores fazem a opção por revelar a personagem através de suas conversas com os filhos, as mulheres que cruzam o seu caminho e alguns homens que também buscam conhecer um pouco da sua história. Revelam através de conversas telefônicas para os EUA, que ela tinha um amante guatemalteco residente no Arizona , que pretendia recebê-la junto com seus filhos e que estava grávida de um filho desse homem.

A jornada é dura, muitas vezes com privação de alimentos, transporte e higiene. Os quatro mil quilômetros são intercalados com intertítulos que situam o espectador a cada avanço do caminho, como um cronometro de angustia, quando os imigrantes ilegais precisam permanecer, dias, semanas e até meses para conseguir avançar. As caminhadas a pé são longuíssimas com calçados inadequados que causam machucados tanto em Lilian quanto nas crianças. Às vezes recebendo  auxílio médico de ambulâncias no México, que acompanham as grandes ondas humanas de pessoas vindas da Guatemala e outros países da América Central em busca de entrar clandestinamente nos EUA.

Apesar de ser um importante registro dessa situação de imigração ilegal, da dura realidade da América Central e seus habitantes que espoliados e desesperados buscam alguma saída para sobreviver e tentar chegar no tão sonhado EUA, o documentário peca por não aprofundar algumas questões levantadas, como a violência contra a mulher em uma sociedade machista. Também poderia ter esclarecido as questões políticas que impediram Lilian e seus filhos de chegar ao tão sonhado destino. Acerta ao registrar a exaustiva caminhada e muitas variantes que podem impedir até os mais obstinados de alcançar seus objetivos. O que fica pelo caminho são os sonhos que muitas vezes não podem se realizar, mas outras alternativas surgiram para Lilian e seus filhos.

Comentários

Postar um comentário

Deixe seu comentário. Quero saber o que você achou do meu texto. Obrigado!

Postagens mais visitadas deste blog

CINEFIALHO - 2024 EM 100 FILMES

           C I N E F I A L H O - 2 0 2 4 E M  1 0 0 F I L M E S   Pela primeira vez faço uma lista tão extensa, com 100 filmes. Mas não são 100 filmes aleatórios, o que os une são as salas de cinema. Creio que 2024 tenha sido, dos últimos anos, o mais transformador, por marcar o início de uma reconexão do público (seja lá o que se entende por isso) com o espaço físico do cinema, com o rito (por mais que o celular e as conversas de sala de estar ainda poluam essa retomada) de assistir um filme na tela grande. Apenas um filme da lista (eu amo exceções) não foi exibido no circuito brasileiro de salas de cinema, o de Clint Eastwood ( Jurado Nº 2 ). Até como uma forma de protesto e respeito, me reservei ao direito de pô-lo aqui. Como um diretor com a importância dele, não teve seu filme exibido na tela grande, indo direto para o streaming? Ainda mais que até os streamings hoje já veem a possibilidade positiva de lançar o filme antes no cinema, inclusiv...

AINDA ESTOU AQUI (2024) Dir. Walter Salles

Texto por Marco Fialho Tem filmes que antes de tudo se estabelecem como vetores simbólicos e mais do que falar de uma época, talvez suas forças advenham de um forte diálogo com o tempo presente. Para mim, é o caso de Ainda Estou Aqui , de Walter Salles, representante do Brasil na corrida do Oscar 2025. Há no Brasil de hoje uma energia estranha, vinda de setores que entoam uma espécie de canto do cisne da época mais terrível do Brasil contemporâneo: a do regime ditatorial civil e militar (1964-85). Esse é o diálogo que Walter estabelece ao trazer para o cinema uma sensível história baseada no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva. Logo na primeira cena Walter Salles mostra ao que veio. A personagem Eunice (Fernanda Torres) está no mar, bem longe da costa, nadando e relaxando, como aparece também em outras cenas do filme. Mas como um prenúncio, sua paz é perturbada pelo som desconfortável de um helicóptero do exército, que rasga o céu do Leblon em um vôo rasante e ameaçador pela praia. ...

BANDIDA: A NÚMERO UM

Texto de Marco Fialho Logo que inicia o filme Bandida: A Número Um , a primeira impressão que tive foi a de que vinha mais um "favela movie " para conta do cinema brasileiro. Mas depois de transcorrido mais de uma hora de filme, a sensação continuou a mesma. Sim, Bandida: A Número Um é desnecessariamente mais uma obra defasada realizada na terceira década do Século XXI, um filme com cara de vinte anos atrás, e não precisava, pois a história em si poderia ter buscado caminhos narrativos mais criativos e originais, afinal, não é todo dia que temos à disposição um roteiro calcado na história de uma mulher poderosa no mundo do crime.     O diretor João Wainer realiza seu filme a partir do livro A Número Um, de Raquel de Oliveira, em que a autora narra a sua própria história como a primeira dama do tráfico no Morro do Vidigal. A ex-BBB Maria Bomani interpreta muito bem essa mulher forte que conseguiu se impor com inteligência e força perante uma conjuntura do crime inteir...