Como Vender a Lua, dirigido por Greg Berlanti, traz à berlinda o velho tema sobre a primazia da chegada do homem à lua, na época da chamada Guerra Fria entre os Estados Unidos e a já extinta União Soviética. A produção hollywoodiana recria a história na perspectiva do marketing, da necessidade de se vender para o país e o congresso a ideia da importância da concretização de promessa feita no começo da década de 1960 por John Kennedy. No final dos anos 1960, já no Governo Nixon, a viagem à lua havia perdido força no país e algo deveria acontecer para se retomar o fôlego de antes.
Entretanto, mais do que trazer perguntas sobre o passado, Como Vender a Lua suscita interrogações para o mundo de hoje sobre a guerra de informações que tanto perturba nossas vidas. O filme vai lá nos anos 1960 para resgatar algo importante para o presente, no caso, as narrativas como princípio de uma guerra ideológica maior. Certa vez, o filósofo Paul Virilio afirmou que vence uma guerra na contemporaneidade quem convencer o mundo disso. Inclusive, o filme, espertamente, muda o nome da União Soviética da época para Rússia. Seria uma estratégia para associar a União Soviética de antes a Putin? Vale lembrar que a questão da opinião pública é um fenômeno da era do crescimento urbano das grandes cidades, e a mágica de se fazer chegar uma informação a milhares de pessoas ao mesmo tempo foi possibilitado pelo surgimento e alastramento da televisão, e a ida à lua está muito vinculada a essa ideia do visual, de se poder mostrar.
Fiquei me perguntando do porquê resgatar um tema já tão debatido no cinema de Hollywood, como o da veracidade das imagens do homem chegando à lua. Assim como em Oppenheimer, Como Vender a Lua propõe uma reintepretação de fatos históricos, com o intuito de trazer "novidades" de bastidores que terminam por reafirmar a visão tradicional da história dos Estados Unidos. Sim, por mais que os elementos trazidos sejam "inéditos", eles apenas servem para ratificar as versões antigas, de que as imagens vistas em 1969 foram as que os astronautas filmaram no ato da chegada à lua. Admitir que havia um plano B caso não fosse possível se registrar imagens diretamente na lua é quase uma piada, já que segundo as versões oficiais as imagens artificiais não se efetivaram.
A personagem Kelly Jones (Scarlet Johansson) funciona em Como Vender a Lua como um simbólico da trama, já que como mulher do marketing, sua vida representava a própria mentira, cujo passado como charlatã é mantido em sigilo pelo governo dos Estados Unidos. Numa visão claramente machista, o personagem Cole Davis (Channing Tatum), como um bom herói hollywoodiano, é quem ensina Kelly sobre como ser correto perante aos valores éticos. É dado à mulher um papel de subserviência ética, mesmo que profissionalmente Kelly fosse inquestionável. A própria ideia de romance no filme é bastante apelativa e totalmente clichê. Ela, a mulher esperta. Ele, o cara todo certinho.
É bom que fique claro que Como Vender a Lua não trata a questão do marketing na política com uma visão crítica, muito pelo contrário, reforça a importância de se reafirmar o patriotismo como mais relevante do que a própria verdade dos fatos, inclusive com o representante do governo, Moe (Woody Harrelson), se mostrando uma pessoa totalmente inescrupulosa e sem caráter. Como acreditar que tudo é lindo e maravilhoso quando tudo que remete à estrutura do Estado cheira à farsa e ao trambique. Esse tipo de heroísmo boboca dos Estados Unidos fazem esses tipos de filme tornarem-se anacrônicos e sem sentido para o mundo de hoje. Enfim, esse é um filme do marketing para falar do marketing na política. E de quebra, é Hollywood ratificando o mais do mesmo do ridículo sonho americano. Quem quiser cair na esparrela, que fique à vontade. Comigo não, violão.
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