Texto por Marco Fialho
A Filha do Pescador mostra o quanto em muitos casos, é difícil realizar uma obra cinematográfica na América Latina. O diretor Edgar De Luque Jácome é colombiano e o filme é resultado de uma coprodução entre Colômbia, Brasil e Porto Rico, e filmado na República Dominicana. Essas dificuldades de filmagem estão um pouco refletidas no resultado um tanto irregular desse filme que marca a estreia do diretor em longas.
Não que A Filha do Pescador não tenha seus méritos. Sim, os tem, embora falte ao roteiro e a direção a mesma coragem que está colocada na história. Abordar a temática LGBT em uma região inóspita, praticamente inabitada, onde os papéis de gênero são bastante demarcados sinaliza sim um ato de ousadia. O grande problema é que o diretor não consegue fugir de uma narrativa insossa, linear e sem brilho. O tom das intepretações é destoante, o ator Roamir Pineda (Samuel), no papel do pai não está afinado com o de Nathalia Rincón, sublime como Priscila, uma mulher trans que precisa encarar os preconceitos do pai.
A Filha do Pescador parte de uma disparidade entre território conservador e personagem trans, o que de início é empolgante, para ir construindo uma relação de afeto nesse turbilhão de emoções desencontradas. Há algo de forçado nessa relação entre pai e filha. O filme não agrega elementos novos à trama, que avança sem grandes atrativos, apenas pequenas doses de drama vão sendo acrescentados.
Ao que tudo indica, o diretor Edgar De Luque Jácome apela para a reconciliação afetiva como uma espécie de alento narrativo. É uma característica bem comum de uma vertente do cinema contemporâneo, de deixar o tema se sobrepor à linguagem. Assim, os planos do filme são clássicos e previsíveis, sem jamais surpreender o espectador.
Por isso, a força do filme concentra-se na força interpretativa de Nathalia Rincón, que encara a encenação melodramática da direção com ímpeto. Há um flerte de Priscila com um dos pescadores, que a direção prefere não concretizar, uma outra opção questionável, já que a atração entre os personagens era mais do que anunciada e factível. A Filha do Pescador se caracteriza como um drama LGBT que pouco oferece em novidade narrativa e que em alguns pontos exacerba no melodrama. É um típico filme que trabalha uma temática relevante, sem emplacar soluções cinematográficas criativas.
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