Texto de Marco Fialho
Às Vezes Quero Sumir é um drama intimista, pequeno, sem pretensões maiores, embora narrado com grande feeling e sensibilidade pela diretora Raquel Lambert. E como é bonito sentir a mão feminina em todas as cenas, como se houvesse sempre uma mão carinhosa a afagar cada plano filmado, em especial os da protagonista. Essa é uma típica obra de personagem, no caso, a de Fran, que conta com uma interpretação cativante de Daisy Ridley, uma jovem a procura de si mesma, e em busca de seu lugar nesse mundo.
A maior parte da história de Às Vezes Quero Sumir se passa no pequeno escritório em que Fran trabalha como auxiliar, fazendo planilhas e cuidando da liberação de itens de escritório, uma vida simples que mantem o sustento financeiro, mesmo que algo no seu semblante deixe transparecer um quê de infelicidade.
A delicadeza com que Raquel Lambert vai deslanchando pacientemente a vida de Fran é instigante, pois a cada novo instante pouco sabemos sobre como ela é, do que gosta, apesar que chega um momento em que ficamos na dúvida se Fran realmente sabia quem ela mesma era. A câmera de Rachel Lambert vai flagrando os pequenos detalhes da vida cotidiana de um escritório, com suas baias demarcadoras dos espaços, seus computadores, as conversas cruzadas sobre banalidades, o café e os tira-gostos tão comuns nas repartições burocráticas.
A grande virada da história acontece logo depois da aposentadoria de uma colega de trabalho e a chegada de Robert, seu substituto. Ele e Fran até engatam um flerte, mas o autoboicote dela logo atravanca a relação. A diretora se escora no lúdico para melhor traduzir ou deixar pistas de como entender melhor a cabeça confusa de Fran, com os delírios de morte ou de que está suspensa pelo guindaste que funciona no estaleiro bem em frente do escritório em que trabalha.
Os delírios de Fran e os diálogos dela com Robert são responsáveis pelos melhores momentos de Às Vezes Quero Sumir, que se utiliza muito dos silêncios e dos olhares para mostrar ao que veio. Mesmo que a premissa de Raquel Lambert não contenha grandes lampejos e nem se pretenda a isso, saber lidar com o mínimo e dar conta dele é um grande mérito. Os 90 minutos de Às Vezes Quero Sumir passam tranquilamente por nós, sem nos sobressaltar ou mesmo cansar, como uma peça de câmara ambientada em uma pequena cidade, que apenas tenta viver na sua aparente e frugal calmaria.
Comentários
Postar um comentário
Deixe seu comentário. Quero saber o que você achou do meu texto. Obrigado!