Texto de Marco Fialho
Zona de Exclusão, filme dirigido pela experiente diretora polonesa Agnieszka Holland (Filhos da Guerra, Jardim Secreto, Eclipse da Paixão), trata de um dos temas mais necessários e graves de nossos tempos: o dos refugiados. E olha que eles não são poucos nesse mundo tomado pelas guerras, em especial, as que se sucedem no continente asiático. Nessa trama, se aborda refugiados vindos da Síria que tentam superar as fronteiras entre Belarus e Polônia, numa saga que beira o interminável.
Agnieszka Holland opta por filmar um suspense com altas doses dramáticas, em um preto e branco soturno, que torna as imagens mais graves do que já seriam se fossem coloridas. Mas esse é um tema em que a carga emocional pode pesar e interferir no resultado final do filme, sobretudo na fluência narrativa. A diretora se engaja de tal forma ao tema que notamos uma mão pesada em diversas das cenas. Se Zona de Exclusão não chega a descambar para o melodrama, podemos dizer que se inclina fortemente para o dramalhão e essa abordagem mais pesada acentua a dramaticidade do que já é dramático por natureza e incomoda. E muito...
Mas o que Holland faz como diretora para que essa característica tão pungente apareça tanto aos nossos olhos? Creio que o primeiro impulso é a decisão de utilizar a câmera de maneira radical, na mão, seguindo todos os passos dos personagens, como se estivesse lado a lado dos refugiados. Esse recurso funciona em alguns momentos, mas ele vai cansando, por ser constante, até se tornar intragável.
Entretanto, não é só a câmera que cansa. Outro elemento irritante em Zona de Exclusão é o roteiro. São tantas idas e vindas dos mesmos refugiados sírios tanto no lado da fronteira de Belarus quanto da Polônia que o cansaço é inevitável, já que as cenas parecem, muitas das vezes, serem as mesmas sendo filmadas e refilmadas. Em um determinado momento, os arames farpados que apartam as fronteiras vão dando um enjoo e uma confusão. De repente não sabemos mais se estamos vendo o lado de Belarus ou da Polônia, já que o ambiente hostil está em ambos os lados.
Holland se perde igualmente no excesso de personagens. Além do grupo inicial de refugiados, somos apresentados a tantos outros e daqui a pouco formam-se outros grupos, como se a narrativa não soubesse mais quais eram os protagonistas da história. De repente, eis que surgem um grupo de defesa dos refugiados que atuam para protegê-los na medida do possível. Holland ainda protagoniza um soldado da fronteira, cuja esposa está grávida, o que o sensibiliza mais frente à vida em relação aos seus colegas de guarda da fronteira. Ainda tem a psicóloga que também adere à causa dos refugiados e se revolta contra as barbaridades que os soldados praticam contra eles. Não bastando todos esses personagens, muitos outros refugiados vão aparecendo na trama, o que colabora para que o filme se alongue desnecessariamente.
Zona de Exclusão é o típico filme que ficamos torcendo pelos refugiados, afinal o bom senso tende sempre a prevalecer. Mas fica a crítica de que é preciso refletir sobre essa importante temática, embora não possamos esquecer que o excesso de emoção no cinema acaba por reduzir a capacidade de reflexão sobre o tema abordado. Infelizmente, esse é o caso de Zona de Exclusão, priorizar o enfoque emocional ao invés de adotar abordagens mais distanciadas, que permitiriam uma visão mais crítica sobre uma discussão tão crucial quanto a dos refugiados para o mundo contemporâneo.
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