Pular para o conteúdo principal

NÉVOA PRATEADA (2023) Dir. Sacha Polak


Texto de Marco Fialho

 Névoa Prateada, dirigido por Sacha Polak, é um drama duro que acompanha a trajetória de Franky, papel vivido pela atriz Vicky Knight, que entrega muita intensidade nas cenas, uma jovem enfermeira que luta contra um difícil passado que deixou marcas visíveis em seu corpo. A diretora vai abrindo constantemente janelas para Franky, mas cena a cena vai fechando cada uma delas, como se essa procura fosse em vão e só resultasse em fracassos. 

Durante toda a trama, a protagonista enfrenta problemas de variadas naturezas, como o preconceito de sua família quando Franky assume um relacionamento lésbico com uma ex-paciente do hospital em que trabalhava. A diretora Sacha Polak aborda frontalmente a agressividade da sociedade em relação à sexualidade de Franky. Agressões explícitas são feitas contra ela e a namorada em um ônibus pelo namorado da irmã. 

O filme trata das oscilações desse novo relacionamento, e aos poucos, das rosas sobram apenas os espinhos. Os personagens vão se deparando com as dificuldades do mundo contemporâneo, tanto nas impossibilidades das relações quanto na difícil tarefa de encontrar a felicidade. O sentimento de vingança de Franky perante o pai, que considera culpado pelo seu incidente que marcou a sua infância parece impedi-la de usufruir plenamente da vida. Em paralelo vamos conhecendo o augúrio de viver uma vida livre em um universo apequenado. 

Mas a maior reviravolta de Névoa Prateada acontece quando Franky conhece Alice (Charlotte Knight), uma senhora com uma doença terminal, que encara tudo de frente e luta para ser feliz, apesar do infortúnio da doença. Esse é o maior aprendizado que o filme deixa, o de olhar sempre para o agora e deixar o passado para trás. 

A câmera de Névoa Prateada não fabrica espetáculos grandiosos ou enquadramentos extraordinários, opta sempre pelo que melhor comunica o realismo que a diretora Sacha Polak desenhou para a sua narrativa. Os dramas do filme são cotidianos, diretos e contraditórios tal como a vida é. A esperança que Sacha Polak deposita ao final do seu filme é aquela na qual esperamos todos os dias, a da possibilidade de reconciliação e de acreditar que o amanhã pode ser diferente, apesar dos insistentes percalços que a vida nos prepara cotidianamente.   

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CINEFIALHO - 2024 EM 100 FILMES

           C I N E F I A L H O - 2 0 2 4 E M  1 0 0 F I L M E S   Pela primeira vez faço uma lista tão extensa, com 100 filmes. Mas não são 100 filmes aleatórios, o que os une são as salas de cinema. Creio que 2024 tenha sido, dos últimos anos, o mais transformador, por marcar o início de uma reconexão do público (seja lá o que se entende por isso) com o espaço físico do cinema, com o rito (por mais que o celular e as conversas de sala de estar ainda poluam essa retomada) de assistir um filme na tela grande. Apenas um filme da lista (eu amo exceções) não foi exibido no circuito brasileiro de salas de cinema, o de Clint Eastwood ( Jurado Nº 2 ). Até como uma forma de protesto e respeito, me reservei ao direito de pô-lo aqui. Como um diretor com a importância dele, não teve seu filme exibido na tela grande, indo direto para o streaming? Ainda mais que até os streamings hoje já veem a possibilidade positiva de lançar o filme antes no cinema, inclusiv...

AINDA ESTOU AQUI (2024) Dir. Walter Salles

Texto por Marco Fialho Tem filmes que antes de tudo se estabelecem como vetores simbólicos e mais do que falar de uma época, talvez suas forças advenham de um forte diálogo com o tempo presente. Para mim, é o caso de Ainda Estou Aqui , de Walter Salles, representante do Brasil na corrida do Oscar 2025. Há no Brasil de hoje uma energia estranha, vinda de setores que entoam uma espécie de canto do cisne da época mais terrível do Brasil contemporâneo: a do regime ditatorial civil e militar (1964-85). Esse é o diálogo que Walter estabelece ao trazer para o cinema uma sensível história baseada no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva. Logo na primeira cena Walter Salles mostra ao que veio. A personagem Eunice (Fernanda Torres) está no mar, bem longe da costa, nadando e relaxando, como aparece também em outras cenas do filme. Mas como um prenúncio, sua paz é perturbada pelo som desconfortável de um helicóptero do exército, que rasga o céu do Leblon em um vôo rasante e ameaçador pela praia. ...

BANDIDA: A NÚMERO UM

Texto de Marco Fialho Logo que inicia o filme Bandida: A Número Um , a primeira impressão que tive foi a de que vinha mais um "favela movie " para conta do cinema brasileiro. Mas depois de transcorrido mais de uma hora de filme, a sensação continuou a mesma. Sim, Bandida: A Número Um é desnecessariamente mais uma obra defasada realizada na terceira década do Século XXI, um filme com cara de vinte anos atrás, e não precisava, pois a história em si poderia ter buscado caminhos narrativos mais criativos e originais, afinal, não é todo dia que temos à disposição um roteiro calcado na história de uma mulher poderosa no mundo do crime.     O diretor João Wainer realiza seu filme a partir do livro A Número Um, de Raquel de Oliveira, em que a autora narra a sua própria história como a primeira dama do tráfico no Morro do Vidigal. A ex-BBB Maria Bomani interpreta muito bem essa mulher forte que conseguiu se impor com inteligência e força perante uma conjuntura do crime inteir...