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NOT DEAD (2023) Dir. Isaac Donato


Texto de Marco Fialho

"Not Dead" é um documentário que trata de um espaço que recebia shows de bandas punks de Salvador. É o segundo longa do diretor Isaac Donato, que na sua estreia como diretor de longas, com o ótimo "Açucena", ganhou a Mostra Aurora em Tiradentes em 2022, oportunidade em que a mostra aconteceu inteiramente no formato on line. 

O filme, apesar de tratar de um tema do passado, começando lá nos anos 1970 e 1980, não utiliza imagens de arquivo, o que de certa maneira causa um estranhamento, já que o tema do documentário perpassa tanto um espaço quanto as bandas que ali tocaram. Entretanto, o longa vai apresentando alguns dos personagens do universo punk da Bahia, desde músicos, cantores e frequentadores dos shows. 

Dentre esses frequentadores, o doc apresenta um personagem, Neilton, um deficiente visual, que trabalha com audiodescrição para o cinema. Esse personagem ocupa boa parte da atenção do diretor e praticamente torna-se um grande personagem do filme. Podemos dizer que "Not Dead" não elege frontalmente um protagonista para o seu longa, prefere caminhar em meio ao acaso por alguns encontros e depoimentos aqui e acolá. Nada imprime muito na tela, tudo parece chegar e logo partir, o que provoca um certo distanciamento do espectador durante a fruição do filme. 

Embora o filme consiga coletar bons depoimentos e boas cenas de encontro, especial algumas regadas à cerveja artesanal, fiquei incomodado com o fato do filme enfocar mais na audiodescrição do que no próprio objeto central, que era o punk na terra do axé. Toda vez que o filme se perdia nas longas cenas em que Neilton discutia ao telefone com uma outra profissional, a discussão sobre o punk algo arrefecia em mim, como se o filme gerasse uma autossabotagem, um desvio. "Not Dead" é um documentário que mesmo que tenha alguns bons personagens, derrapa na direção, por não conseguir reunir uma ideia muito precisa sobre o seu objeto.                            

                    

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