Texto de Marco Fialho
"Foram os sussurros que me mataram" trata de maneira quase onírica os momentos que antecedem a entrada de uma celebridade, Ingrid Savoy (Mel Lisboa), em um reality show. A abordagem escolhida por Tuoto, de certo cria um incômodo permanente no espectador, pois o universo asséptico e claustrofóbico está a um lance a perpetuar e atordoar, a um só tempo, personagem e espectador.
Tuoto imprime uma camada vigorosa de secura e limpeza tanto nas atuações quanto nos enquadramentos, retirando quaisquer resquícios de emoção do seu filme. Essa escolha torna a mise-en-scène bastante teatralizada e não naturalista, rígida em sua estrutura macro e gera um agudo distanciamento com a plateia, que em nenhum momento é convidada a saborear o que está na tela.
Em "Foram os sussurros que me mataram" tudo é por demais límpido, em um filme onde tudo acontece em dois cômodos, mas que Tuotto insere o exterior através do uso do extracampo, com sons que constantemente perturbam a cena e os espectadores. Há nessa obra um retumbante viés fantástico e talvez a maior evidência disso seja a interpretação concêntrica de Mel Lisboa e a de todos os atores envolvidos. A limpeza dos gestos e das falas claramente decoradas e exageradas são permeadas por frias citações, não deixam dúvidas sobre o caráter irônico, jamais cômico, que emana da tela a todo instante. Existe obviamente uma crítica do filme ao feixe fetichista que habita perigosamente nosso mundo, essa necessidade de parecermos belo e imprimível em todas as aparições públicas, em especial àquelas pessoas expostas violenta e constantemente na mídia.
Sinceramente, não sei se todo o rigor cênico que essa obra irradia funcione tão a contento quanto o imaginado pelo diretor, mas ele está ali a dizer muito sobre ela. Tuoto é conhecido e reconhecido na crítica justamente por este rigor analítico. Resta observar e analisar se o rigor que funciona lá repercute com a devida precisão no campo ficcional pretendido por ele.
A primeira impressão que ficou, foi a de um certo engessamento da proposta. Mesmo que todo o aspecto crítico da obra seja reforçado a cada minuto: uma análise inguinal sobre as manifestações mediáticas da contemporaneidade rústica. A opção de enrijecer todas as camadas de leitura, torna o filme algo frio em demasia. Não há respiro, apenas sufocamento ao clima de um cinema fantástico que não aceita negociar minimamente com o prazer do espectador.
Tô louca para ver esse filme! Abraços Marco e Carmela. Márcia Cannes
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