Texto de Marco Fialho
Segundo filme da trilogia de terror que iniciou com "X - a marca da morte" (2022), "Pearl" traz cenas no melhor estilo gore ao resgatar o slasher para a sua trama. "Pearl" trabalha de forma enviesada com um cinema que cultua a fantasia como uma visão de mundo possível. Tudo filmado com elegância, se esforçando por desviar de uma estética trash, com cenas violentas realizadas com requinte estilístico.
O filme trata da crescente insatisfação da personagem Pearl (com interpretação inebriante e eu diria até possuída da brasileira Mia Goth, neta da nossa icônica atriz do cinema marginal, Maria Gladys), uma moça muito jovem cujo marido está servindo na guerra e cujo sonho de vida é a de se tornar uma estrela de cinema, em especial um filme com dança.
A maneira como o diretor Ti West incorpora esses desejos e fantasias na trama é o que mais chama a atenção. Ti West explora o contraste desse sonho de Pearl com a realidade da personagem, uma vida austera na fazenda, com o pai doente e a mãe conservadora a explorar sua mão de obra. Tudo isso parecem a deixar muito longe de seus maiores desejos, fatos que vão transformando a personalidade da jovem.
A relação dela com um projecionista sedutor a incita a mergulhar ainda mais nos seus sonhos, mas o mais interessante na trama é que ela leva de contrapeso também os seus pesadelos. "Pearl" traz uma metáfora poderosa sobre o efeito da guerra (no caso a 1ª Guerra Mundial) como uma das maiores anomalias humanas, como um assassinato oficialmente consentido de milhares de pessoas, ainda tendo uma pandemia de gripe espanhola como pano de fundo, lembrando que o filme foi filmado em plena pandemia da Covid-19.
O diretor Ti West cena a cena vai preparando o público para o ápice do filme, trabalhando bem o confronto entre realidade e sonho, com planos e angulações expressivas, típicas de quem conhece usar os recursos cinematográficos para desenvolver com precisão a sua história. Um detalhe importante destacado pelo diretor é a do campo imagético, em que somos atormentados pela mistura de ambientes escuros e cores chamativas e luminosas como o azul-celeste e o vermelho do figurino de Pearl. "Pearl" é exatamente isso, uma mistura explosiva de cores e sensações cinematográficas, um filme de terror em que ficamos divididos entre o pavor de uma mente adoecida e a beleza das imagens.
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