Texto de Marco Fialho
"A menina silenciosa" é uma pérola inesperada vinda da Irlanda. É uma história sobre a imprevisibilidade da beleza, de como do lodo pode nascer uma flor. Um dos mais belos filmes do Festival do Rio 2022 e lançado muito discretamente no circuito comercial em 2023, quase desapercebido. Mas realmente há algo nessa obra que me mobiliza ao extremo: dela ser uma ode ao encontro entre almas sensíveis e nascidas para o amor. O diretor Colm Bairéad realiza uma obra detalhista, silenciosa e cuidadosa no tratamento dos personagens.
O filme transcorre a partir do ponto de vista da menina Cáit (excepcional atuação da jovem Catherine Clinch), o que instaura um certo suspense nas relações dela com os outros personagens. Tudo que descobrimos é a partir da sua vivência, do seu olhar lançado ao mundo. A família que aceita cuidar dela pelas dificuldades financeiras de seus pais, seria respeitosa mesmo? A realidade dura de seus pais, nos fazem duvidar até o fim da bondade dessa família que a acolhe com amor. O confronto entre o passado e o presente da menina está a nos encarar cena a cena e faz as nossas descobertas serem as mesmas que a dela.
A impressão que temos é que a cada nova cena uma pétala se descortina e assim vamos assistindo a beleza de uma nova perspectiva de vida sendo descoberta. Descobrimos o amor junto com Cáit e vamos para casa com ele. Não é uma emoção compatível ao que nos oferece um melodrama convencional, que nos envolve apelando para um sentimento de pena. É algo construído gota a gota, que vai nos envolvendo delicada e sutilmente, progressivamente, sem sequer percebermos.
Essa é a mágica que "A menina silenciosa" nos proporciona, e isso é algo raro no cinema de hoje, dominado por explosões, correria, cortes rápidos, montagem "esperta" e planos apelativos. Aqui essa perspectiva cinematográfica não cabe, tudo é filmado com leveza e cuidado. Será que por vir de um país como a Irlanda, sem nenhuma pressão de se filmar centenas e milhares de filmes anualmente, foi possível realizar um filme com tanta delicadeza e esmero? Quando foi exibido no Festival do Rio em 2022, este filme não havia ainda distribuidor aqui no Brasil. A Imovision está de parabéns ao perceber que este era um filme único e que não merecia ficar sem distribuição em nosso país.
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