Pular para o conteúdo principal

TERRA DE DEUS (2023) Dir. Hlynor Pálmason


Texto de Marco Fialho

É tão raro termos acesso a filmes produzidos na Islândia, que só esse fato já faria feliz qualquer cinéfilo no Brasil. Mas "Terra de Deus" é bem mais do que um filme exótico vindo de uma região inóspita e gelada do mundo. O vigor e o requinte da direção de Hlynor Pálmason são marcas indeléveis desse impactante longa metragem. 

A história de "Terra de Deus" se passa no final do Século XIX e tem como pano de fundo o clima nada amistoso entre a Dinamarca e a Islândia, já que a primeira colonizou a segunda. A história  gira em torno de um padre que vai até um vilarejo na Islândia para construir uma igreja e tirar fotos da gélida ilha. 

O filme cultiva os conflitos étnicos entre islandenses e dinamarqueses, já que o Padre dinamarquês Lucas (Elliott Crosset Hove) sofre com o clima nada amistoso de uma família formada por um pai e duas filhas, em especial quando a filha mais velha se sente atraída pelo padre. 

"Terra de Deus" trata a pequena sociedade desse vilarejo da Islândia como uma terra sem lei, onde tudo pode acontecer, sem grandes consequências de investigação. Tudo é  feito na surdina, com a moral nesse ambiente sendo fluida e vulnerável, o próprio padre mata e pratica abuso sexual, dentre outros danos sociais sérios. 

A narrativa do filme usa e abusa de planos longos e contemplativos, com uma câmera, que até quando se movimenta, garante o desempenho dos atores, além dos planos serem plasticamente belíssimos e inspirados, dignos de uma pintura artística. O diretor Hlynor Pálmason explora a paisagem de maneira tão exemplar que podemos dizer que ela se transforma em personagem, ainda mais que a sua atmosfera fria parece contagiar os próprios personagens. Aqui a fotografia está presente na história e nos planos preciosos, que por si, já valem a conferida no filme.

"Terra de Deus" possui uma força imagética e dramatúrgica bem marcantes, mesmo que para nós espectadores o desconhecimento da história da Islândia possa dificultar o entendimento de algumas sequências. Mas esse é um filme para se encantar tanto pela beleza dura da paisagem quanto pela esmerada visão da direção em cada plano filmado. Se alguém não sabia que a Islândia tinha cinema, descobriu que além de existir, ele pode ser vigoroso e beirar o sublime.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

ÁLBUM DE FILMES VISTOS EM 2023 - 340 filmes

DESTAQUES FILMES INTERNACIONAIS 2023 https://cinefialho.blogspot.com/2023/12/destaques-filmes-internacionais-em-2023.html?m=1 DESTAQUES FILMES BRASILEIROS 2023 https://cinefialho.blogspot.com/2023/12/destaques-de-2023-filmes-brasileiros.html?m=1 DESTAQUES DE CURTAS BRASILEIROS 2023 DESTAQUES DE CURTAS BRASILEIROS 2023 (cinefialho.blogspot.com) ESPECIAL FIM DE ANO: 14 VÍDEOS DO BATE-PAPO CINEFIALHO DE 2023: O REINO DE DEUS (2023) Dir. Claudia Sainte-Luce Vídeo:  Marco Fialho (@cinefialho) • Fotos e vídeos do Instagram ______________ GUAPO'Y (2023) Dir. Sofía Paoli Thorne Vídeo:  Marco Fialho (@cinefialho) • Fotos e vídeos do Instagram _____________ AS GRÁVIDAS (2023) Dir. Pedro Wallace Vídeo:  Marco Fialho (@cinefialho) • Fotos e vídeos do Instagram _____________ À SOMBRA DA LUZ (2023) Dir. Isabel Reyes Bustos e Ignacia Merino Bustos Vídeo:  Marco Fialho (@cinefialho) • Fotos e vídeos do Instagram ______________ PONTES NO MAR (2023) Dir. Patricia Ayala Ruiz Vídeo:  Marco Fialho (@ci

GODZILLA - MINUS ONE

Texto de Marco Fialho O maior mérito de "Godzilla - Minus One" está na maneira como o diretor Takeshi Yamazaki conjuga a história narrada com o contexto histórico do Japão pós segunda guerra. O monstro Godzilla é fruto direto do efeito nuclear provocado pela bomba atômica lançada pelos Estados Unidos.  O filme funciona como uma resposta à vergonha japonesa ao difícil processo de reconstrução do país, como algo ainda a ser superado internamente pela população. A partir desse fato, há um hábil manejo no roteiro para que a história funcione a contento, com uma boa fluência narrativa.  Aqui o monstro é revelado desde o início, não havendo nenhuma valorização narrativa, ou mistério, sobre a sua aparição. Mas se repararmos com atenção, "Godzilla - Minus One" é  um filme de monstro, embora se sustente tendo na base um melodrama de dar inveja até aos mais radicais da safra mexicana dos anos 1950. A história parte de Koichi, um piloto kamikaze que se recusa a executar uma or

MOSTRA CINEBH 2023

CineBH vem aí mostrando novos diretores da América Latina Texto de Marco Fialho É a primeira vez que o CineFialho irá cobrir no modo presencial a Mostra CineBH, evento organizado pela Universo Produção. Também, por coincidência é a primeira vez que a mostra terá inserido um formato competitivo. Nessa matéria falaremos um pouco da programação da mostra, de como a curadoria coordenada pelo experiente Cleber Eduardo, montou a grade final extensa com 93 filmes a serem exibidos em 8 espaços de Belo Horizonte, em apenas 6 dias (26 de setembro a 1º de outubro). O que atraiu o CineFialho a encarar essa cobertura foi o ineditismo da grande maioria dos filmes e a oportunidade mais do rara, única mesmo, de conhecer uma produção independente realizada em países da América Latina como Chile, Colômbia, México, Peru, Paraguai, Cuba e Argentina, sem esquecer lógico do Brasil.  Lemos com atenção toda a programação ofertada e vamos para BH cientes da responsabilidade de que vamos assistir a obras difere