O título do filme já indica um primeiro ponto a se sublinhar: o quanto difícil é assistir a esse documentário. E para reforçar esse sentimento, nos créditos iniciais, somos alertados sobre sensações que o filme pode causar.
O desafio de "Incompatível com a vida" é separar formato utilizado pela diretora e sofrimento das personagens, ainda mais que tudo que é retratado no filme possui um viés profundamente pessoal, com a própria diretora vivendo uma gravidez que precisou ser interrompida abruptamente.
Eliza conta não só a sua história como a de outras mulheres e outros casais que passaram pelo mesmo problema. Essas mulheres têm os seus depoimentos tomados por uma câmera que se posiciona frontalmente a elas, o que acentua uma sensação de intimidade nessas falas. Tudo o que acontece na tela gera uma imediata empatia e inspira uma profunda tristeza no espectador, pois um momento que seria de grande alegria acaba se transformando em dor e morte, uma perda tão impactante que em alguns casos, inclusive a da própria Capai, envolve até separação de casais.
"Incompatível com a vida" segue a cronologia desses acontecimentos, o começo de esperança e alegria da descoberta da gravidez; a tristeza do processo da perda; o luto; e a difícil etapa posterior de ter que retomar uma relação a dois depois de um trauma tão significativo.
O único aspecto que me incomodou foi a trilha musical, que por vezes salienta ainda mais os momentos que já são exageradamente tristes em si mesmos, mas deve se destacar a coragem de Eliza Capai em mergulhar em um projeto tão intimista como este.
"Incompatível com a vida" é um documentário que provoca profundas perguntas sobre o processo gestacional na sociedade contemporânea brasileira e o quanto violento ele se apresenta para as mulheres. A luta sobre o direito ao aborto é antiga, pois a lei em vigor tem quase um século, e não só é anacrônica, como reflete o machismo típico da sociedade patriarcal. Vale lembrar ainda que o filme se passa durante o governo genocida de Bolsonaro.
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