Texto de Marco Fialho
Lá estava eu, com a noite avançada, tentando desenrolar aquele sono, embalado pelo vinho amigo, até que lá pelas três da manhã latidos estridentes e enlouquecidos de cães não me deixaram dormir direito. Eram muitos e todos pareciam enlouquecidos de raiva. Ficaram assim por mais de uma hora ininterruptamente. Como me lembrei de "O som ao redor", só que ali não era um cão insistente, mas um grupo. Fiquei a pensar o que poderia levar os bichinhos a ficarem tão enfurecidos e descontrolados. Mas em algum momento eles pararam, mas cada bicho tem a sua hora, certo? Quando a calmaria enfim veio e pude começar a me acalmar, para enfim relaxar em paz, eis que me chegam novos sons, agora a dos galos da vizinhança anunciando que o sol estava rompendo a aurora. Achei melhor me levantar de vez da cama e vir escrever essa crônica e dedicar a quem, pelo menos nesse momento, realmente são os verdadeiros donos de Búzios: os imperiosos bichos.
O bom de passar uns tempos numa cidade pequena começa pela mudança de hábitos. Como alguns já sabem, venho para Búzios de vez em quando para fugir do ritmo de vida e neurose típicos de uma grande cidade. Em Búzios, fico em um bairro minúsculo chamado Vila Caranga, um misto de área suburbana com uma vila de pescadores decadente. Ainda se vê algumas casas que lembram a dos pescadores na Vila Caranga, mas recentemente as casas muito desgastadas estão sendo vendidas e reformadas, muitas para alugar para pessoas que querem visitar turisticamente a cidade de Bardot.
Inclusive essa crônica quer falar sobre eles, dos bichos que vivem nessa região e que mostram o quanto podemos conviver com eles, embora nos grandes centros vão sendo engolidos pela multidão de pessoas que se pisoteiam implacavelmente em suas pressas. Aqui em Búzios, noto o quanto esses seres possuem ainda algum protagonismo. E basta sair de casa para se observar isso. Apesar de que a casa que alugo fica em um grande quintal arborizado (que já escrevi nessa crônica no ano passado), onde os animais são as estrelas, aqui nós humanos somos os coadjuvantes que precisamos pedir licença para eles. Ficar na varanda, na rede ou na mesinha o que você vê e ouve são os bichinhos. Ontem eu estava a ler o ótimo livro "Olhos D'água" da Conceição Evaristo, quando avistei uma enorme formiga, linda, quase do tamanho de uma barata. Comecei a observar até que ela entrou em um buraco no rodapé da varanda, bem ao lado da rede. Daí comecei a ver que logo depois uma outra formiga, um pouco menor, vinha pelo mesmo caminho carregando um resto de folha do tamanho dela. A bichinha tentava entrar no micro buraco com aquele pedaço de folha, e manobrava o corpo em várias posições tentando encaixar ela e a sua folha naquele reduzido espaço. Claro que em segundos, ela conseguiu o jeito e adentrou no minúsculo espaço. As formigas são uns animais incríveis, elas possuem uma organização descomunal e sempre voltado para o coletivo delas, uma aula de sociabilidade fora de série.
A praia é outro lugar onde os bichinhos abundam. O que dizer das ousadas fragatas que passeiam pelas areias, muitas vezes dividindo o pequeno espaço com famílias inteiras de turistas que brigam por um lugar na areia? Admirar seus voos lindos, como elas oscilam a flutuar no céu, para logo depois desligarem em um mergulho vertical e vertiginoso nas águas em busca de alimento. Adoro passar perto delas e admirar o seu olhar que busca ser temeroso e altivo ao mesmo tempo. Um dia desses ficamos até assustados com um grupo delas que davam mergulhos próximos a nossas cabeças. Pensei em Hitchcock e nos seus pássaros nervosos. Ficamos mais calmos ao ver que numericamente não eram tantas assim. Como estávamos a admirar um grupo de tartarugas marinhas filhotes navegando na beira-mar, pensamos até que as fragatas estivessem tentando nos afastar das tartarugas. Não posso afirmar nada a respeito, ainda mais que preferimos sair de perto e não pagar para ver.
Ao andar pela Vila Caranga, ainda se percebe sua origem humilde e isso é a melhor parte do bairro, assistir a uma vida cotidiana simples de pessoas que ainda sabem quem são os seus vizinhos, que frequentam a mesma pequena padaria e o minimercado do bairro, que ainda mantem um certo charme daquelas vendinhas de antigamente que eram tão fácil de se encontrar nos subúrbios cariocas. Pessoas andando de chinelo pelas ruas, crianças brincando no portão de casa com os vizinhos e vira-latas desfilando pelas ruas com a sua alegre simpatia.
Inclusive essa crônica quer falar sobre eles, dos bichos que vivem nessa região e que mostram o quanto podemos conviver com eles, embora nos grandes centros vão sendo engolidos pela multidão de pessoas que se pisoteiam implacavelmente em suas pressas. Aqui em Búzios, noto o quanto esses seres possuem ainda algum protagonismo. E basta sair de casa para se observar isso. Apesar de que a casa que alugo fica em um grande quintal arborizado (que já escrevi nessa crônica no ano passado), onde os animais são as estrelas, aqui nós humanos somos os coadjuvantes que precisamos pedir licença para eles. Ficar na varanda, na rede ou na mesinha o que você vê e ouve são os bichinhos. Ontem eu estava a ler o ótimo livro "Olhos D'água" da Conceição Evaristo, quando avistei uma enorme formiga, linda, quase do tamanho de uma barata. Comecei a observar até que ela entrou em um buraco no rodapé da varanda, bem ao lado da rede. Daí comecei a ver que logo depois uma outra formiga, um pouco menor, vinha pelo mesmo caminho carregando um resto de folha do tamanho dela. A bichinha tentava entrar no micro buraco com aquele pedaço de folha, e manobrava o corpo em várias posições tentando encaixar ela e a sua folha naquele reduzido espaço. Claro que em segundos, ela conseguiu o jeito e adentrou no minúsculo espaço. As formigas são uns animais incríveis, elas possuem uma organização descomunal e sempre voltado para o coletivo delas, uma aula de sociabilidade fora de série.
Ontem, como sempre faço pelas manhãs, fui à Praia da Ferradura, a predileta minha e de minha esposa. Eis que no caminho, à distância, avisto um bicho marrom. A princípio, pensei que fosse um cachorro, mas quanto mais me aproximei vi que se tratava de uma capivara. Claro que parei o carro e pedi para minha esposa tirar umas fotos da bichinha, pois ali não era uma área reconhecida como o habitat delas. Apesar de que, aqui em Búzios elas proliferam e há até uma placa no caminho para Praia de João Fernandes, perto de uma pequena reserva florestal, pedindo aos motoristas mais apressados cuidado com elas, gesto que achei bastante simpático da prefeitura (fiquei imaginando quantos desses bichinhos tão bonitinhos devem ter sido atropelados nos últimos anos ali na estrada).
A praia é outro lugar onde os bichinhos abundam. O que dizer das ousadas fragatas que passeiam pelas areias, muitas vezes dividindo o pequeno espaço com famílias inteiras de turistas que brigam por um lugar na areia? Admirar seus voos lindos, como elas oscilam a flutuar no céu, para logo depois desligarem em um mergulho vertical e vertiginoso nas águas em busca de alimento. Adoro passar perto delas e admirar o seu olhar que busca ser temeroso e altivo ao mesmo tempo. Um dia desses ficamos até assustados com um grupo delas que davam mergulhos próximos a nossas cabeças. Pensei em Hitchcock e nos seus pássaros nervosos. Ficamos mais calmos ao ver que numericamente não eram tantas assim. Como estávamos a admirar um grupo de tartarugas marinhas filhotes navegando na beira-mar, pensamos até que as fragatas estivessem tentando nos afastar das tartarugas. Não posso afirmar nada a respeito, ainda mais que preferimos sair de perto e não pagar para ver.
Ao final da tarde, eis que temos o show das gaivotas em meio ao céu alaranjado dessa hora tão mágica e celebratória. Quando enfim a noite chega, então pode-se pensar que os bichinhos vão descansar. Que nada, sempre tem os danados dos seres notívagos. Fora aqueles insetos voadores que gostam de invadir a sua casa atraídos pela luz, talvez querendo lembrar que ali o invasor é você!
Lá estava eu, com a noite avançada, tentando desenrolar aquele sono, embalado pelo vinho amigo, até que lá pelas três da manhã latidos estridentes e enlouquecidos de cães não me deixaram dormir direito. Eram muitos e todos pareciam enlouquecidos de raiva. Ficaram assim por mais de uma hora ininterruptamente. Como me lembrei de "O som ao redor", só que ali não era um cão insistente, mas um grupo. Fiquei a pensar o que poderia levar os bichinhos a ficarem tão enfurecidos e descontrolados. Mas em algum momento eles pararam, mas cada bicho tem a sua hora, certo? Quando a calmaria enfim veio e pude começar a me acalmar, para enfim relaxar em paz, eis que me chegam novos sons, agora a dos galos da vizinhança anunciando que o sol estava rompendo a aurora. Achei melhor me levantar de vez da cama e vir escrever essa crônica e dedicar a quem, pelo menos nesse momento, realmente são os verdadeiros donos de Búzios: os imperiosos bichos.
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