Os absurdos da pandemia
Texto de Marco Fialho
"Da porta pra fora" narra a tragédia brasileira à época da pandemia da Covid-19, nos anos de 2020 e 2021, mas o faz por meio dos motoboys, em especial três deles (dois homens e uma mulher), que trabalham a partir dos aplicativos de celular do tipo dos ifood, aqui com o nome modificado sugestivamente para Tifoodi (para evitar processos jurídicos). O documentário acerta ao incluir na história a conturbada vida política do país governado por Bolsonaro e nos faz lembrar da negativa do então presidente em comprar a vacina, o que levou o país a mais de 700 mil mortos pelo Coronavírus.
O filme vai desenrolando, tendo os meses de 2020 e 2021 como referência, ditando o ritmo da ação. E nessa organização temporal é que percebe-se o quanto nesse ponto desponta uma irregularidade na direção de Thiago Foresti, ao retratar com detalhes o ano de 2020, mas acelerar demais a partir de 2021. "Da porta pra fora" é feito uma escola de samba que perde pontos na evolução durante o desfile na avenida. Nos dois primeiros terços do filme, acompanhamos os três protagonistas em suas rotinas, narrando com detalhes os problemas de trabalhar como motoboy na pandemia. Já no terceiro terço, as histórias se atropelam, Marcos, o motoboy bolsonarista, aparece em janeiro de 2021 criticando a vacina, mas logo na sua próxima aparição, oito meses depois, já está a tomar a vacina e dizer que votará em Lula. De janeiro de 2021 a setembro de 2021, mais de 400 mil pessoas morreram de Covid-19 no Brasil, e justamente, é nesse momento que o filme dá o seu maior salto temporal, o que provoca um latente desequilíbrio narrativo.
A narrativa do filme alterna depoimentos realizados tanto por voz over quanto com a câmera frontal aos personagens. Thiago Foresti também se utiliza com habilidade da inserção das mensagens de whatsApp (meio de comunicação dos motoboys) diretamente na tela. Os três protagonistas vão se revezando ao contar e gravar suas experiências no calor da hora das entregas. Assim, temos a jovem Keliane, que se coloca frontalmente contra o governo Bolsonaro, e o motoboy Marcos, um bolsonarista empedernido, radicalmente contra a vacina e os médicos. Para fechar o grupo somos apresentados a Alessandro, inconformado com a situação dos motoboys e disposto a participar de um movimento para garantir os direitos trabalhistas dessa nova categoria, que trabalha o dia inteiro para ganhar cada vez menos.
O filme vai desenrolando, tendo os meses de 2020 e 2021 como referência, ditando o ritmo da ação. E nessa organização temporal é que percebe-se o quanto nesse ponto desponta uma irregularidade na direção de Thiago Foresti, ao retratar com detalhes o ano de 2020, mas acelerar demais a partir de 2021. "Da porta pra fora" é feito uma escola de samba que perde pontos na evolução durante o desfile na avenida. Nos dois primeiros terços do filme, acompanhamos os três protagonistas em suas rotinas, narrando com detalhes os problemas de trabalhar como motoboy na pandemia. Já no terceiro terço, as histórias se atropelam, Marcos, o motoboy bolsonarista, aparece em janeiro de 2021 criticando a vacina, mas logo na sua próxima aparição, oito meses depois, já está a tomar a vacina e dizer que votará em Lula. De janeiro de 2021 a setembro de 2021, mais de 400 mil pessoas morreram de Covid-19 no Brasil, e justamente, é nesse momento que o filme dá o seu maior salto temporal, o que provoca um latente desequilíbrio narrativo.
Entretanto, "Da porta pra fora" vale muito pelos seus dois primeiros terços, cujos detalhes e aprofundamento dos protagonistas (em especial o da personagem de Keliane) permitem um envolvimento do espectador com cada uma das três histórias, apesar de confessar que me incomodou a cena em que Marcos agradece a Deus a cura do pai e despreza abertamente o trabalho dos médicos. A música inserida nessa cena acentua a dramaticidade, além do tempo se estender e a fala de Marcos ficar repetindo a mesma cantilena fanática de sua religiosidade. Mas devemos salientar a importância de não esquecermos da época trágica do governo de Bolsonaro, seus absurdos ditos em horário nobre da TV.
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