"Canção ao longe" começa com uma imagem exterior: a de uma casa sendo demolida, parede a parede, como se algo de nós desabasse junto. Com as imagens que se seguem, vemos que essa imagem reflete mais a interioridade da personagem Nina (Mônica Maria) do que simplesmente o ruir de uma casa. Em alguns momentos, o filme me remeteu a "A Liberdade é Azul" (1993) tanto pelo uso da música sinfônica quanto por retratar uma personagem feminina querendo encontrar um novo caminho em sua vida, embora o peso do passado lhe impeça.
A diretora Clarissa Campolina parte de pequenas vivências cotidianas para nos apresentar Nina, nos aproxima dela com a câmera, porém a narrativa lembra mais um documentário observacional do que um drama envolvente. Não há arroubos, apesar do retrato ser por vezes melancólico. Como o filme veio, ele vai, com a vida de Nina seguindo seu fluxo silenciosamente perturbado. Tudo na vida de Nina soa como impermanente e frágil. As cartas, conquanto expressam sentimentos, participam como veículos que ecoam e reafirmam os silêncios de Nina e seus distanciamentos, já que as mesmas são lidas por ela para ela mesma.
O filme me tocou por esse viés intimista, de uma busca silenciosa ditada por pequenos passos ou autoboicotes diários. O pai ausente, um peruano que não se adaptou a vida a dois com a mãe, aparece somente por meio das cartas, mas ele vive em Nina poderosamente. Tudo no filme segue o fluxo de Nina, do seu tempo, suas indecisões, ela é uma mulher jovem, por voltas dos 30 anos, vinda de uma família que lhe oferece conforto material, e de certa maneira bastante privilegiada. Nina descobre que o motorista Miguel, que trabalha para a sua avó, conheceu seu pai, que tinha um sebo. Ao se conectar a um sebo ela tenta de alguma forma buscar algo que supra a carência paterna. Ela procura um apartamento para morar sozinha, mas esse passo parece ser mais difícil do que possamos imaginar.
A diretora Clarissa Campolina parte de pequenas vivências cotidianas para nos apresentar Nina, nos aproxima dela com a câmera, porém a narrativa lembra mais um documentário observacional do que um drama envolvente. Não há arroubos, apesar do retrato ser por vezes melancólico. Como o filme veio, ele vai, com a vida de Nina seguindo seu fluxo silenciosamente perturbado. Tudo na vida de Nina soa como impermanente e frágil. As cartas, conquanto expressam sentimentos, participam como veículos que ecoam e reafirmam os silêncios de Nina e seus distanciamentos, já que as mesmas são lidas por ela para ela mesma.
Uma das cenas mais bonitas é quando Nina se atrai de ir à janela para escutar uma mulher cantando belamente a enigmática música "Alguém cantando", de Caetano Veloso, e o quanto ela representa Nina, sua busca, o quanto desafiador é tentar captar a voz do coração e ainda mais filma-la. Um filme para se atentar nas brechas que ele abre e jamais fecha, nem em si mesmo nem tampouco em nós.
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