Uma história de amor e diáspora contra o absurdo nazista
Texto de Marco Fialho
"As três vidas de Frieda Wolff", dirigido por Pedro Gorski trata da vida do casal Egon e Frieda Wolff, dois judeus alemães refugiados no Brasil à época do regime nazista de Hitler. Esse é um documentário denso, com extensa pesquisa de material de arquivo, realizado com muito zelo e amor pelos personagens. O trabalho do casal Wolff, hoje, é reconhecido como a maior contribuição à história do povo judeu no Brasil. Deixaram mais de 60 escritos sobre o tema, um número realmente expressivo. O filme se organiza em três partes: a primeira, que narra o contexto do encontro do casal; a segunda, quando o casal se estabelece no Brasil; e a terceira, em que Frida precisa tocar a vida após a morte de Egon.
Inicialmente, o casal investiu no turismo de judeus no Brasil e na venda de armação de óculos. O negócio prosperou de tal maneira que eles realizaram esse trabalho por anos a fio. O ano de 1948 foi um ano fundamental para o casal, quando eles ingressaram para a Associação Israelita e Egon começou a trabalhar na Policlínica e ambos se engajaram na revista judaica "Aonde vamos?", sendo um dos redatores. A pesquisa sobre o judaísmo só foi aumentando até que a partir de 1954, o casal empreendeu uma pesquisa que viria a ser a mais importante sobre o tema do judaísmo no Brasil: "Os judeus no Brasil Imperial", publicado enfim em 1974, se tornando uma das obras mais referenciais sobre judaísmo.
Chama muita atenção a acuidade da pesquisa feita por Pedro Gorski sobre dois personagens razoavelmente comuns. Apesar de que, o que Pedro nos mostra é o quanto as histórias das pessoas são ricas e cheias de nuances, curvas e percalços da vida e podem ser muito interessantes. Pedro vai buscando contatos e arquivos tanto na Europa quanto no Brasil e vai fechando o seu ousado quebra-cabeça que foi a vida desse casal. De fato, a segunda Guerra Mundial marcou uma nova diáspora judaica, e de certa forma, a história de Frieda e Egon sintetiza muito a loucura que foi fugir do nazismo e ter que encarar uma outra cultura e uma outra língua.
Curiosamente, a história do casal termina na cidade histórica de Vassouras, onde se encontram os corpos cremados do casal. Egon foi um judeu ateu, que pediu para ser cremado, o que feria a cultura judaica e Frieda também quis ser cremada, mas pediu que o seu caixão não fosse fechado antes da cerimônia final, pois ela tinha claustrofobia. A trajetória e o trabalho histórico deles, foram fundamentais na recuperação da história de diversos judeus que passaram pelo Brasil invisibilizados. O casal, se interessou pela história de todos eles e esse inventário judaico hoje é crucial para a identidade cultural desse povo marcado pela ação diaspórica.
"As três vidas de Frieda Wolff" pode ser entendido como um documentário obsessivo sobre esse casal Wolff, mas antes de tudo pode ser compreendido como uma história de amor que a transcende, que se estabelece como uma luta necessária contra não só o nazismo, mas todos os regimes totalitários regidos pelo racismo, a xenofobia e a intolerância ao que é diferente. Todos os seres vivos do mundo devem ter direito não só a vida, mas de escolher como vivê-la, sem quaisquer traços de hierarquia entre os seres. "Frieda" fala muito sobre isso tudo.
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