A visão chapa branca de Ben Affleck do mundo corporativo
Texto de Marco Fialho
Ben Affleck a cada filme mostra o quanto esperto é, ou está se tornando. Sabe adentrar no mundo capitalista como poucos. Em "Air: a história por trás da logo" temos mais um capítulo de Affleck perfilando suas habilidades como um estrategista de sucesso, como já havia realizado no oportunista "Argo" (2012), premiado com o Oscar de melhor filme, roteiro adaptado e montagem ao abordar o heroísmo, a inteligência e a superioridade dos Estados Unidos perante aos irracionais terroristas iranianos. Como diretor, passa ao largo de uma visão mais crítica dos acontecimentos que narra, e aceita mais uma vez o papel de ser um promotor da falida ideologia norte-americana, mais uma vez mostrada ao mundo como edificante e de sucesso.
Em "Air: a história por trás da logo" Affleck aceita ser quase que um porta-voz ou um marqueteiro da Nike, que salienta a "inventividade" inerente ao mercado de vendas, além de sublinhar a política arrojada e de risco da empresa. Matt Damon, velho companheiro de estrada cinematográfica de Affleck, interpreta Sonny Vaccaro, o funcionário da Nike responsável pelo contrato que mudaria a história da empresa. Affleck assume como ator o papel do CEO da Nike, cujas aparições são apenas pontuais. E quem espera ver o personagem de Michael Jordan se decepcionará, pois suas aparições são à distância ou de costas para a câmera. Se frustrará duplamente se esperar alguma jogada de basquete, esta também está ausente do filme.
Viola Davis interpreta a mãe de Michael Jordan, em mais uma atuação de gala irretocável. "Air: a história por trás da logo", embora tenha um roteiro bem azeitado, não consegue esconder seus princípios mais sórdidos: o de promoção descarada de uma marca de tênis, sem esboçar sequer uma nuance crítica sobre o tema abordado ou as contradições que movem esses esquemas comerciais em que apenas o lucro permeia as relações humanas. Desde a primeira cena, "Air: a história por trás da logo" soa como um grande déjà vu, afinal, filmes como esse abundam na indústria hollywoodiana. As concorrentes Adidas e Converse aparecem igualmente como destaque, em especial a informação da posterior compra da Converse pela Nike alguns anos depois, o que vem a fortalecer ainda mais a estratégia de "Air: a história por trás da logo".
Se levarmos "Air: a história por trás da logo" a ferro e fogo, seremos induzidos a pensar na luta e na criatividade dos homens de negócio das grandes empresas empreendedoras, que com suas visões ousadas e com muito trabalho e obstinação chegaram ao inevitável sucesso e tudo realizado com a leveza, puro entretenimento, e até uma pitada generosa de humor, que lhe é devido. É o cinema dos Estados Unidos colaborando para que a sociedade veja com bons olhos a trajetória de enriquecimento dos seus "audaciosos" empresários. Isso passa longe de qualquer tipo de novidade. É mais velho do que explorar a mão de obra de latinos, negros e outros trabalhadores que vivem à margem da suposta sociedade mais rica do mundo.
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