Os ursos estão à solta
Texto de Marco Fialho
O novo trabalho de Jafar Panahi (Táxi Teerã, 3 faces, O balão branco, Cortinas fechadas, entre outros filmes importantes) é um tipo de panóptico insidioso. As câmeras de Panahi estão em Teerã e numa pequena cidade na fronteira com a Turquia: mais uma vez o cinema político de Panahi vai de encontro ao sistema opressor do Irã. Em verdade, o diretor institui um paradoxo: o regime o vigia, mas ele também faz o mesmo ao apontar a câmera contra o regime opressor tanto do Estado quanto da sociedade. Panahi sutilmente desconstrói com sua câmera costumes milenares que atravancam o convívio amistoso entre os seus.
As tramas ficcionais e documentais vão se misturando de tal modo durante o filme, que perto do final já não sabemos mais quais são esses limites. Mas Panahi não se contenta com as superficialidades, na sua passagem pelo lugarejo interiorano, ele expõe o conservadorismo das comunidades tradicionais, o quanto não só são arcaicas quanto também servem de sustentáculo do regime autoritário central.
Os ursos do título são uma metáfora usada por Panahi sobre a mentira no Irã de hoje, mais uma imagem falsa do Estado para controlar pelo medo os iranianos. O Irã de hoje é um país que vive do medo e do fomento à ignorância e do apego a valores tradicionais que mantém os privilégios de poucos. Lá, os ursos, estão literalmente à solta. E o que podemos dizer do cinema de Panahi é que cada imagem realizada é um tiro contra o sistema e isso faz a potência do seu cinema, mesmo que em alguns momentos o ritmo ralente e atrapalhe um pouco a fluência do filme.
A realidade é que o cineasta continua banido e preso em seu próprio país e reafirma o enfrentamento perante o regime fundamentalista. A impressão permanente que temos é de que a câmera é uma arma na mão de Panahi. Filme a filme, o diretor reitera a sua própria imagem como um artifício de resistência política, há nessa atitude um que de ato simbólico embora também traga ali uma chama de luta e um ato efetivo. Panahi dirige um filme em Teerã mesmo estando em outra cidade, acompanhando ao vivo as filmagens pela internet.
As tramas ficcionais e documentais vão se misturando de tal modo durante o filme, que perto do final já não sabemos mais quais são esses limites. Mas Panahi não se contenta com as superficialidades, na sua passagem pelo lugarejo interiorano, ele expõe o conservadorismo das comunidades tradicionais, o quanto não só são arcaicas quanto também servem de sustentáculo do regime autoritário central.
A comunidade vigia os passos do diretor e o comportamento de todos os seus membros. Em uma cena, um vizinho o aconselha a não subir no telhado que pode ser considerada uma atitude suspeita. Quando um menino de 9 anos vê que Panahi bate uma foto de um casal que estavam comprometidos para outros, uma prática opressiva de manutenção do poder e riquezas das famílias tradicionais, o diretor põe o sistema a nu ao registrar a saga para que ele mostrasse a tal foto. Panahi nega ter essa foto comprometedora, mas é obrigado a fazer um humilhante juramento público à comunidade de que não tinha em seu poder a tal foto. O absurdo do autoritarismo é posto à prova e evidenciado pelo cinema ativista de Panahi.
Os ursos do título são uma metáfora usada por Panahi sobre a mentira no Irã de hoje, mais uma imagem falsa do Estado para controlar pelo medo os iranianos. O Irã de hoje é um país que vive do medo e do fomento à ignorância e do apego a valores tradicionais que mantém os privilégios de poucos. Lá, os ursos, estão literalmente à solta. E o que podemos dizer do cinema de Panahi é que cada imagem realizada é um tiro contra o sistema e isso faz a potência do seu cinema, mesmo que em alguns momentos o ritmo ralente e atrapalhe um pouco a fluência do filme.
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