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MURIBECA (2023) Dir. Alcione Ferreira e Camilo Soares


A memória como derrota

Texto de Marco Fialho

"Muribeca" é um documentário que exala tristeza em cada frame. Ele trata de um imenso bairro, dominado por um imenso conjunto habitacional, situado em Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana de Recife, onde moravam milhares de famílias até que a Defesa Civil condenou as estruturas de vários prédios, provocando uma debandada da população e proporcionando a decadência total e a quase extinção do bairro, embora o filme ainda registre alguns resistentes moradores que lutam para recuperar o bairro. 

Como bem define uma das moradoras, aqui, hoje, "é um cemitério com gente viva." O filme resgata histórias e memórias fantásticas de coletividade, de festividades e solidariedade vividas naquele bairro. A melancolia predomina durante todo o documentário, uma certeza de que a vida que ali fluiu agora está morta e jamais será refeita. 


Embora algumas performances artísticas se alonguem por demasia, impactando no ritmo do filme, a beleza do documentário está presente no espírito de que a vida ali valeu a pena, mesmo que o presente seja de destruição e abandono. As recorrentes imagens de abandono do conjunto, assim como as da deterioração abundam em "Muribeca" e acentuam uma atmosfera de um passado que não volta mais. "Muribeca" cumpre com a premissa de resgate dessa memória, que envolve a felicidade de pessoas naquele espaço e no tempo. Infelizmente, a realidade de "Muribeca" é semelhante a muitas outras e reflete o descaso do poder público a vida das populações que estão sempre à margem da sociedade. 

Desde que a Defesa Civil decretou o começo do fim de Muribeca, vários foram os momentos em que o local poderia ser salvo da ruína total, mas as respostas oficiais sempre ratificaram e delinearam o fim da vida feliz em Muribeca. Esse é um documentário difícil de ser visto por contrastar um passado glorioso com um presente lastimável. As festas que faziam valer a pena a ideia de coletivo e contrastam com a solidão que as imagens revelam do presente, como a do bar que esvaziado parece não fazer mais sentido.  

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