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HOLY SPIDER (2022) Dir. Ali Abassi


Como combater os preconceitos? "Holy Spider" e a escolha de algumas estratégias equivocadas

"Holy Spider" consegue misturar em seu enredo o filme de serial killer, típico e popular na cultura cinematográfica de Hollywood e o filme de crítica social, bem comum no cinema do Irã. Ali Abassi, diretor do inusitado "Border" (2018), aqui caminha mais pela narrativa realista ao basear sua história em um caso real ocorrido no Irã. 

O personagem do serial killer Saeed (Mehdi Bajestani) é um cidadão aparentemente comum, casado e com dois filhos, mas fanatizado pelo fundamentalismo religioso, que não consegue lidar com as contradições sociais do regime que defende. 

A maior questão do filme de Ali Abassi é mostrar que todas as prostitutas estão nessa para não passar fome, o que acaba por envolver também um julgamento moral sobre essas profissionais, como que quisesse justificar o ofício delas pela necessidade. Essa é uma questão certamente delicada, mas que precisa ser melhor colocada, ainda mais em um filme vindo de um país tão moralista e cercado de proibições em relação ao corpo da mulher. 

Assim, o filme de Ali Abassi se centra mais em entender esse homem do que realmente se aprofundar na questão de ser mulher nessa sociedade opressora. A personagem da jornalista Rahimi (Zar Amir Ebrahimi) é de uma mulher urbana, que vem de Teerã para colaborar com a polícia local, apesar de não encontrar eco, apenas endosso do machismo imperante na sociedade, numa cena clássica de tentativa de estupro. 

O mais interessante em "Holy Spider" é quando finalmente a jornalista Rahimi com sua tenacidade consegue prender o assassino, mas logo descobre que há um forte movimento na sociedade e na justiça em defesa dele, como uma espécie de justiceiro a acabar com as "putas" que poluem o convívio social. Esse aspecto podre entranhado na sociedade, muito me lembrou do fascismo brasileiro, em que encontramos uma boa parcela da sociedade, no caso de pessoas, muitas delas nossos vizinhos e familiares, defendendo valores antidemocráticos, a homofobia, o racismo, o ódio religioso, entre outras coisas abomináveis. 

Não sei se cabe à arte tentar entender o ódio enraizado nessas pessoas envenenadas por questões religiosas ou históricas mesmo. Acredito que devemos denunciar e pedir que a justiça intervenha com radicalidade. Por isso, considero que o maior mérito de "Holy Spider" é mostrar que o serial killer é somente parte de algo maior, o que muitas vezes o filme de Hollywood não o faz ao tratar esses personagens apenas como sendo eles a anomalia, livrando a formação histórica e social de responsabilidades.

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