Silêncios reveladores
Texto de Marco Fialho
"Close" esbanja sensibilidade ao tratar temas socialmente espinhosos, como a das relações amorosas e sexuais na adolescência, do suicídio, do bullying, da culpa e da busca desesperada pelo perdão, mesmo quando este sequer seja necessário de ser pedido.
O diretor Lukas Dhont acerta ao escolher narrar a história de Leo (Eden Dambrine, que ator!!) e Remi (Gustav De Waele) pelo olhar carinhoso de Leo. As interpretações delicadas são fundamentais para o êxito deste filme, assim como a direção de Dhont sempre atenta e respeitosa com o tempo de cada personagem.
Em algumas cenas o silêncio rouba a cena e garante a afetividade dos sentimentos. Se do ponto de vista cinematográfico o filme é simples, sem floreios e grandes impactos, do ponto de vista narrativo há uma fluência a nos cativar em uma história densa e perpassada por um rigoroso senso de observação. Cada olhar dos atores dizem toneladas de coisas e olha que esses olhares abundam.
De certa forma "Close" é o percurso do olhar de cada um dos personagens, que chegam a tirar o fôlego de quem assiste. Há um divisor de águas no filme quando os meninos Leo e Remi ingressam no ensino médio e os colegas ficam perguntando se eles são um casal. Esse bullying, típico das escolas, mostra o quanto é difícil falar socialmente de sentimentos mais íntimos, o que faz Leo racionalizar mais as suas atitudes em relação a Remi.
Destaque ainda para a atriz Émilie Dequenne que interpreta lindamente Sophie, uma mãe que não desiste de amar mesmo após viver uma tragédia sem precedentes para uma mulher. A longa sequência final é registrada por uma câmera em busca de captar sentimentos perdidos, há nela uma ânsia que é de cortar o coração.
Lukas Dhont economiza nos diálogos, mas não nos silêncios reveladores, deixando que os personagens aflorem angústias que tomam a tela por completo. Um trabalho raro de direção e mise-en-scène do cinema contemporâneo.
Um filme impecável! Eu fiquei de cara em ver quanta fala tinha naqueles silêncios. Adorei a análise.
ResponderExcluirPaulinho Assumpcao- Muito boa a tua crítica, Marco. Eu achei interessante também no filme um aspecto que eu percebo bastante entre os meus alunos. Eles aceitam numa boa a homossexualidade dos colegas, desde que não pensem que eles também sejam homossexuais. Ou seja, apesar de toda aceitação atual, a homossexualidade ainda é vista como algo negativo.
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