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PARAÍSO PERDIDO (2018) Direção de Monique Gardenberg


Um paraíso onde o amor sempre vence 

Logo na primeira imagem de “Paraíso perdido” não temos dúvidas: estamos em um ambiente de cabaré, com suas luzes de neon e o clima festivo. E para fortalecer ainda as imagens, a música sensualmente dançante e um apresentador nos reafirmam o convite a adentrar no espaço feito para quem é guiado pelo amor, mas que logo se contradiz ao começar com um assassinato. O filme é um mergulho nesse universo ambíguo, subterrâneo e desconhecido, que exerce imediatamente um forte atrativo (ou repulsa) nas pessoas.

A imersão nesse ambiente de submundo é realizado por meio de uma profusão de músicas bregas (estilo Reginaldo Rossi), que somadas a uma fotografia de cores incomuns (assinada por Pedro Farkas), rosas com azuis e vermelhos com verdes dão o tom pitoresco e inusitado do ambiente. Os tipos humanos são os mais variados possíveis, como policiais, cantores da noite, manicures, professores, dentre outros frequentadores notívagos. O filme dialoga muito com uma certa alma brasileira, essa que curte as músicas românticas e de dor de cotovelo, que revela o quanto somos emotivos como povo.    


Mas o amor realmente é a grande força de “Paraíso Perdido”. Tudo gira em torno da família nada convencional do dono do cabaré (interpretado com sensibilidade por Erasmo Carlos), e a cada cena, os laços e os dramas vão se estreitando e aumentando. Transversalmente, o filme trabalha a questão da transfobia e da violência contra os transgêneros. Outro elemento desenvolvido pelo roteiro é o do amor e suas manifestações. “Paraíso perdido” nos passa ser um lugar onde as diversas maneiras de amar coexistem, uma parábola sobre as relações intersexuais, sem as amarras costumeiras e tradicionais, o que revela em si a possibilidade de um país complexo, que se reinventa nos desejos livres e verdadeiros.

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