Texto de Marco Fialho
Mesmo sem ter a força narrativa de obras anteriores, como "Adeus, primeiro amor (2011)" e "O que está por vir" (2016), "A Ilha de Bergman" tem lá seus encantos. O filme envolve uma filmagem que acontece na ilha onde Bergman viveu parte de sua vida. Bergman de alguma maneira está presente ali, embora sua evocação estética passe ao largo do filme de Mia. "Persona" também tinha a metalinguagem como tema, mas a semelhança para por aí, a distância entre a obra de Bergman e Mia são gigantes, em qualquer analogia que possa ser pensada a respeito.
A proposta de Mia cria problemas reais para a narrativa. O começo é empolgante, um cineasta e sua namorada chegam a Ilha de Faro, ele exibirá suas obras no cinema da Fundação Bergman, enquanto ela busca inspiração para escrever uma história de amor. Primeiro achamos que a história é sobre este casal, mas depois descobrimos que a ideia de Chris para um futuro filme vai sendo antecipada para nós. Há um desequilíbrio latente entre a expectativa de vermos um filme filmado em Faro e a história de Chris. Essa história de amor que invade o filme é bem banal e desinteressante, o que cria um desnível entre as partes do filme de Mia Hansen-Love.
No título do filme, o nome de Bergman é o protagonista, mas tudo parece não passar de uma jogada, que podia ser de mestre, mas o pior é quando descobrimos que "A ilha de Bergman" não passa de uma jogada de marketing. Claro que o mestre sueco ronda o filme de Mia. Afinal, tem o Safári Bergman, tem o cinema, tem a biblioteca do mestre, as locações de alguns filmes dele, enfim, tem a ilha. Se em alguns momentos a magia Bergman respinga aqui e acolá, no todo, ela passa bem longe.
A narrativa metalinguística de Mia não chega a empolgar, isso é fato, em especial por ser repetitiva e insossa. Não que o filme chegue ao ponto de ser insuportável, jamais, apenas ele se impõe como mais um. Faltou a Mia nesse trabalho um aprofundamento dos personagens, todos rasos em demasia. Ocorre aqui o maior risco de todos, o do pitoresco de filmar na inatingível ilha de Faro ser o fato mais atrativo do filme.
Ao propor três camadas de história para seu filme (a do casal que chega a ilha, a da história de Chris e do final da filmagem de Chris), Mia não mergulha fundo em nenhuma, deixando o vazio prevalecer na maioria das vezes. Se "A ilha de Bergman" carece de profundidade, isso não quer dizer que tudo seja um desastre total. A sequência final tem lá a sua graça. Entrar no acervo de Bergman tem lá a sua magia, mesmo que Mia desperdice algo desse encanto. Um flerte final entre Chris/diretora e o ator do filme torna-se o suspiro derradeiro de Mia na superficialidade, uma pedrinha a mais na sua brincadeira metalinguística que reafirma a vitória do vazio em "A Ilha de Bergman". Pelo retrospecto, sabemos que Mia Hansen-Love é muito mais do que isso e o mestre merecia uma homenagem mais à altura.
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