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CIDADÃO KANE (1941), COM SOMBRAS DE "GRILHÕES DO PASSADO OU MR. ARKADIN" (1955) e "VERDADES E MENTIRAS OU F FOR FAKE" (1973) Direção Orson Welles


Verdades e mentiras de Welles

Texto de Marco Fialho

Verdades e mentiras talvez sejam temas presentes em quase todos os filmes de Orson Welles, mas destacamos três deles - "Cidadão Kane", "Grilhões do passado" e "Verdades e mentiras" - como os mais expressivos desse viés tão característico de sua obra. Para Welles havia uma inter-relação entre a verdade e a mentira, duas faces de uma mesma moeda que funcionou como um ardil irônico, e constitutivo, de sua concepção cinematográfica e no qual vamos tecer algumas considerações. 

Como bem descobriu o francês George Méliès lá nos primórdios, o ilusionismo é a base do cinema, na sua genética encontra-se o DNA da arte de criar ilusões por meio de truques e artifícios, assim a consciência do ilusionismo como elemento intrínseco ao cinema tornou-se a chave para penetrar na obra de Welles. A escolha do cinema como meio de expressão de Welles não foi aleatória, baseou-se na constatação de que o cinema era a linguagem artística mais eficiente na arte de iludir. Nessa perspectiva, os filmes de Welles são paradigmáticos e podem ser analisados como um permanente embate entre o que é verdade e o que é mentira, especialmente como se tece um e outro, e como ambos se retroalimentam incessante e ininterruptamente. 


Se a primeira e icônica obra de Welles, Cidadão Kane, pode ser vista como um manifesto do artista, a sua última obra, "Verdades e Mentiras"(F for fake), vislumbra-se como um testamento. As duas obras descortinam o esforço uníssono de conceber a arte e a vida em sua dimensão contraditória. Apreende-se Kane como um poderoso homem que construiu um império, entretanto, por mais que se esforcem em conhecê-lo isso não é possível, pois sua palavra final, Rosebud, continua até o final indecifrável para todos, apenas os espectadores sabem que o significado está atrelado à infância de Kane. A verdadepara Welles reside no sujeito, e ela é indivisível, já a mentira, é social e compartilhada, podendo até ser considerada por todos como uma verdade. 

Se em "Cidadão Kane" Welles é indireto, lida com a verdade e a mentira em especial na própria concepção de montagem do filme, em "Verdades e Mentiras" ele é direto, as torna o tema assumindo que vai dissertar sobre a falsificação, até chegar no ápice dela: a de um falsificador que cria do zero um período completo de Picasso, isto é, cria obras picassianas inexistentes e esbarra no nó da questão, o da autoria. Não à toa Welles afirma no final do filme não ser diferente de nenhum outro ser humano: propenso a mentiras. Welles realiza um filme em que tudo é uma grande mentira, em outras palavras, um falso documentário. Para Welles, o interesse humano na arte é o da geração de questionamentos que interroguem o sentido da vida, e não o de estabelecer a verdade dos fatos por meio da arte. Para ele, não basta sabermos, por exemplo, a verdade sobre Kane ou o falsificador de Picasso, mas sim refletir sobre os caminhos e escolhas deles, o que revelavam e o que tentavam esconder, inclusive sobre eles mesmos. 


Pensar a verdade e a mentira torna-se a pedra fundamental de Welles. Rosebud... essa é a palavra enigma, a peça que falta e ao mesmo tempo a palavra-síntese para o entendimento mais profundo acerca da civilização, tão calcada no progresso material e o segredo que revela o sujeito Charles Foster Kane. Mas também não há uma explicação, um desfecho no qual o diretor tudo desvenda sobre Kane. As grandes perguntas ficam para o espectador e como em um jogo de quebra-cabeças fica a cargo de nós juntar as peças espalhadas no tabuleiro fílmico de Welles. Mas ao final uma indagação poderosa e inevitável fica a nos rodar a cabeça: qual será o sentido da vida? Kane tem um império, com grandes bens, excessivos ao extremo, uma montoeira de coisas e objetos. Mas o que eles eram essenciais para ele ou o sequer o faziam feliz? O que se acompanha em "Cidadão Kane" são narrativas de pessoas que conviveram com ele, mas podemos afirmar que o ser humano pode ser assim compreendido, apenas através da visão do(s) outro(s)? Kane é uma figura pública notória, um homem típico da sociedade mediática nascente. Welles propõe então uma discussão interessante sobre os primórdios desse fenômeno onde viramos apenas uma imagem. Daí o filme propor como primeira narrativa sobre Kane um documentário profundamente impessoal sobre Kane que versava tão somente sobre a sua figura pública. Entretanto, é inevitável, hoje, não relacionarmos Kane a Michael Jackson, por exemplo, homens talentosos que morreram melancolicamente, imersos na riqueza e na solidão.

A força de "Cidadão Kane" está no alcance que a sua narrativa atinge. Como já dissemos, o filme se constrói pelos outros. Apenas um objeto, um mero trenó de criança, nos alça abruptamente para uma reflexão sobre os sentimentos de um indivíduo e consequentemente sobre o sentido da vida. O dilema de Kane é o de todos nós: o que seria importante na vida? No somatório final o que realmente importa e vale a pena? Talvez por isso, devido a essas inevitáveis perguntas o filme inicia e termina com a mesma imagem: uma placa da entrada da mansão Xanadu que diz "não ultrapasse". E lógico que isso não é casual. A placa funciona como um convite à circularidade, uma chamada para que juntemos o quebra-cabeça proposto por Welles, pois, afinal, só chega à repetição da placa quem foi até o final do filme. 


Seis depoimentos compõem o quebra-cabeça de Kane. Em cada depoimento Welles revela facetas e fases da vida desse cidadão chamado Charles Foster Kane. Mas destaca-se um ardil interessante nesse jogo: a infância de Kane, fase mais importante e onde está a chave para o entendimento do protagonista pela leitura dos diários e arquivos do seu tutor, Sr. Thatcher. A ausência desse testemunho vivo faz com que tratemos apenas dos vestígios deixados e não abre a possibilidade de resposta da principal pergunta a ser feita: o que significava Rosebud? 

Curioso notar como a narrativa de Welles lembra o método utilizado Sherlock Holmes, o da decifração de mistérios por meio de indícios ou vestígios. Só que essa tarefa é inglória, pois só há um único vestígio, o significado da palavra Rosebud. Talvez Xanadu também possa ser apontada como uma fonte cheia de vestígios, mas a suntuosidade dela é tanta (já que representa nada mais nada menos que a história da humanidade) com suas réplicas históricas , fauna e flora abundantes, que fica difícil achar ali algo de valor sentimental. Xanadu é a expressão do arrivismo típico dos capitalistas norte-americanos. 


Nesse ponto, é preciso voltarmos ao documentário sobre Kane (um filme dentro do filme) onde se fala sobre Xanadu: "desde as pirâmides, Xanadu é o monumento mais caro que um homem construiu para si (...) um império dentro de um império"; e sobre Kane: "(...) uma poderosa figura do nosso século. O Kubla Khan dos Estados Unidos, Charles Foster Kane". Resta a nós indagar: como inventariar o excesso? E nessa profusão de objetos, como então encontrar os tais vestígios que nos levaria ao significado de Rosebud? Não seria como procurar agulha em um palheiro? Rosebud é apenas uma palavra, é etérea, e tal como uma brisa não tem uma forma, não é palpável. 

"Cidadão Kane" tal como um filme policial de Holmes segue pistas e vestígios, ao todo Welles nos brinda com seis blocos de depoimentos, que a grosso modo nada mais são do que um acúmulo de fatos acerca de um homem bem-sucedido. Casamento, herança e rotinas de trabalho são as informações que as personagens vão descrevendo ao longo do filme. Nos documentos do tutor Thatcher, vasculhados com todo o cuidado, possivelmente está mencionado o trenó, o tal objeto fetiche, cuja marca "Rosebud" queimará mais tarde em um fogueira apenas como mais um dentre vários brinquedos aparentemente desimportantes. Talvez o falecido Thatcher fosse o único a conhecer o que seria "Rosebud", e esse é o ardil de Welles. 


Outro ardil de Welles foi mostrar que no meio daquele acúmulo absurdo de esculturas valiosas havia um pequeno regalo de valor sentimental inestimável, mas que só tinha valor para Kane, da mesma maneira que o globo de vidro com a casa em meio à neve que Kane segurava no dia de sua morte. Qual seria então a verdade e a mentira a ser descoberta sobre Charles Foster Kane? Por sua vez, a imprensa construiu uma versão, bem como todos cada um das personagens ouvidas no filme. Welles, em mais um ardil, expõe todas elas como um elemento de exterioridade a Kane, mas delega apenas ao espectador a montagem dessa ideia de quem era essencialmente Kane. Somente o espectador reúne todos os elementos exteriores e interiores de Kane e pode juntar todas as peças desse quebra-cabeça que foi a vida de Kane. Até o segredo "Rosebud" jamais será revelado ou descoberto pelas personagens ouvidas, ele está circunscrito aos espectadores e a mais ninguém. Essa é a estratégia fílmica de Welles, a de brincar com a chamada quarta parede, envolvendo o público em um jogo cinematográfico, ele deixa claro assim que a grande personagem de "Cidadão Kane" é o próprio espectador, ele é o detetive, o Sherlock Holmes a unir as peças, a desvendar e elaborar a pergunta crucial: qual é o sentido da vida de uma pessoa? 

Estruturalmente, "Cidadão Kane" surpreende até hoje com uma narrativa fragmentada advinda do conjunto de várias memórias. Os flashbacks que desfilam na tela vão desvendando para o espectador o mistério do filme e reconstituindo a temporalidade da história. A fotografia do veterano Greg Tolland embasa a audácia narrativa com o uso constante da profundidade de campo, que mantém o foco tanto no primeiro plano quanto no plano mais distanciado de uma mesma cena. Uma das sequências mais impressionantes no uso dessa técnica acontece quando o tutor Thatcher dá a notícia aos os pais de Kane sobre a herança milionária e que o menino terá que estudar em um dos melhores colégios do mundo. Welles constrói um plano-sequência em que o tutor conversa com os pais de Kane dentro da casa, enquanto o menino brinca na neve (lembrar do globo que Kane segura na hora da morte e espatifa no chão) com o trenó "Rosebud" ao fundo, tudo e todos em perfeito foco. Essa sequência é uma das mais importantes do filme ao mostrar que o destino de Kane estava sendo decidido à sua revelia, o que o levaria à infelicidade. A subtração da infância de Kane é fundamental, já que ele jamais a recuperará. Em um único plano, Welles consegue tecer uma síntese da falência moral norte-americana: Kane vira uma pequena peça da engrenagem capitalista, milionário, mas subjugado ao sistema, tanto quanto um operário que vende a mão de obra a um industrial para sobreviver. 


Um dos fatos mais notáveis de Cidadão Kane é o quanto Welles na própria narrativa já impõe a ideia de montagem, que fica condicionada pelos relatos e memórias das diversas personagens do filme. Por meio da profundidade de campo, Welles economiza planos, abrindo mão do clássico uso do plano/contraplano. Foi o crítico francês Andre Bazin que lançou luz sob "Cidadão Kane" a partir da concepção da profundidade de campo e da economia narrativa em Welles. Ele detalha, por exemplo, uma sequência da falência do primeiro casamento de Kane. Welles reduz meses em segundos, usando habilmente a edição de seis pequenos planos. Mais econômico que isso impossível. Ainda tem a clássica cena da tentativa de suicídio da esposa em que o fotógrafo Greg Tolland posiciona a câmera de maneira a mostrar tudo com o uso da profundidade de campo sem precisar realizar cortes na imagem. 

Sem sair da análise da narrativa de Welles em "Cidadão Kane", mas explorando outros aspectos dela, gostaria de trabalhar nela voltando na perspectiva da verdade e da mentira, pois há uma grande mentira de Welles a ser desmascarada em "Cidadão Kane" e que passa habitualmente desapercebida pela maioria. É fato que todas as personagens do filme buscam decifrar o que seria o significado do tal "Rosebud", a derradeira palavra dita por Kane no instante da sua morte. Mas vejamos bem, a cena da morte de Kane é bem explícita e as imagens não deixam dúvidas: Kane está sozinho na hora H da morte ao proferir "Rosebud" e só vemos alguém adentrando o quarto após o globo espatifar no chão. Quem então teria ouvido a tal misteriosa palavra? Certamente, mais uma vez Welles nos prega uma de suas habituais peças narrativas e mostra a faceta fake que tão bem expressa o cinema dele. Nada é casual em "Cidadão Kane". Welles registra a palavra "Rosebud" em um plano detalhe da boca de Kane, isto é, direciona a palavra diretamente para o espectador. Mesmo assim fica a pergunta: será que o objetivo de Welles era mostrar a todos que uma de suas atribuições como artista era se dar ao privilégio da invenção e de manipular o que seria verdade e mentira dentro da narrativa? 


Nesse ponto onde o que está em jogo é a própria noção de verdade e mentira quero introduzir uma reflexão acerca de um outro filme de Welles, "Grilhões do passado - Mr. Arkadin" (1955), mas que muito pode contribuir para essa discussão tão relevante na obra cinematográfica de Orson Welles. Há uma aproximação gritante na narrativa de "Cidadão Kane" e "Grilhões do passado". Assim como "Cidadão Kane", "Grilhões do passado" também começa pelo fim, com a morte do protagonista Mr. Arkadin e a partir de então o espectador mergulha em diversos flashbacks que vão esclarecendo a história sobre a vida dele. Analiso aqui a versão europeia do filme, cuja montagem está sob controle de Welles.                   

Apesar de não ser muito conhecida pela maioria do público, "Grilhões do passado" se situa como uma das obras significativas na carreira de Orson Welles. É um tratado sobre o vazio das fortunas nascidas do dia para a noite. Arkadin é um desses milionários, porém não se reconhece mais em meio as circunstâncias suspeitas do próprio enriquecimento. Mais uma vez Welles investe contra a ambição financeira dos homens. Há no filme um depoimento que muito diz sobre a caracterização da personagem: "Arkadin, um homem típico da era de decadência e crise." 


Tal como em "Cidadão Kane, "Grilhões do passado" é concebido como um quebra-cabeça, cada flashback compõe pequenos pedaços explicativos sobre o passado de Arkadin. Lentamente, uma série de personagens passa pela tela, cada qual contando uma passagem da vida do protagonista. O curioso é a escolha de Welles de ser o próprio Arkadin (alegando amnésia) o contratante do serviço de detetive para descobrir seu passado, em especial sobre a origem de sua riqueza. 

Como de hábito em seus filmes, Welles abusa de ângulos inusitados e distorções óticas, de edição de imagem célere e de locações com imensos prédios históricos. Nota-se um acentuado uso de contra-plongée (câmera baixa). Esse enquadramento era muito comum em seus filmes, desde "Cidadão Kane". Essas escolhas expressam a visão barroca de Welles, as insinuantes ênfases de sua concepção artística. Arkadin parece sempre deformado, um mostrengo agressivo da era capitalista, um arquétipo de um homem inescrupuloso. 


Outro aspecto a ser destacado é o do uso das máscaras inspiradas nas figuras de Goya, no mundo das sombras. Para Welles nem as máscaras conseguiam esconder a aberração fruto da decadência provida pelo dinheiro fácil e vil. Welles flerta com o barroco espanhol, com a sua faceta mais exagerada, a da riqueza que transborda em imagens e atitudes quando o ouro camufla o abjeto moral. Mas Welles tem gosto em ressalvar o aspecto humano, por mais vulnerável e cruel que possa parecer. Em Arkadin há uma cena estupenda em que o detetive se depara com um adestrador de pulgas que declara: "os vigaristas não são as piores pessoas do mundo. São só as mais estúpidas. São as pulgas do mundo. " Assim Welles esmiúça e redimensiona o papel que cada indivíduo ocupa socialmente. Por essas questões aqui levantadas, "Grilhões do passado" guarda muito parentesco com "Cidadão Kane", quando o dinheiro delineia e conforma a vida das personagens. A verdade e a mentira são estatutos que ressignificam tanto a vida das pessoas quanto a da própria arte, por isso "Cidadão Kane" adquire um status de manifesto ao alinhavar as ambições artísticas na carreira de Welles. 

Esses pensamentos aqui costurados são suficientes para delimitar "Cidadão Kane" como um marco indiscutível da história do cinema. Não à toa a obra impactou o cinema europeu do pós-guerra, em especial o francês e o italiano. Mesmo depois de 80 anos do lançamento, "Cidadão Kane" continua tendo um imenso reconhecimento crítico e ratifica o gênio Welles, marcado pela inteligência ácida, o caráter rebelde, inconformista, a coragem estética e transgressora em utilizar plenamente os recursos narrativos e de linguagem disponíveis no início dos anos 1940. O legado de Shakespeare enfim tinha um herdeiro à altura; e o cinema alguém capaz de reinventá-lo sem ter que negar a sua vocação narrativa. Pena Hollywood não ter reconhecido plenamente toda a explosão artística e criativa do jovem talento de Orson Welles.         

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