Pular para o conteúdo principal

O FIM DA VIAGEM, O COMEÇO DE TUDO - Direção Kiyoshi Kurosawa


Resultado de imagem para O FIM DA VIAGEM, O COMEÇO DE TUDO
A aventura do sonhar e do viver

Por Marco Fialho

Para quem conhece o universo denso e pesado do diretor Kiyoshi Kurosawa, famoso sobretudo pela atmosfera de horror de seus filmes, pode estranhar esse "O fim da viagem, o começo de tudo", um drama de personagem, intimista, com toques de aventura, suspense e musical. O carisma da atriz Atsuko Maeda nos envolve a cada cena, interpretando a jovem impetuosa, mas ao mesmo tempo assustada repórter Yoko.

Yoko vive um conflito. Ela precisa realizar reportagens pitorescas sobre o desconhecido Uzbequistão, cuja língua ela não domina sequer o mínimo e em seu tempo livre se atira em vôos cegos nos recantos desse estranho país, com visíveis ranços machistas e cercado por exóticas mitologias envolvendo animais.

Kiyoshi Kurosawa vai despretensiosamente construindo uma história singela, crítica aos formatos superflúos do jornalismo de variedades (que diga-se de passagem não é só um fenômeno japonês), ao mesmo tempo em que tece um universo de delicadezas dessa jovem mulher, repleta de sonhos, como tantos  de nós. Kurosawa então trabalha uma dubiedade típica da contemporaneidade, a da angústia humana de viver entre a imaginação e a dura realidade. Uma obra emotiva sim, mas jamais piegas, embalada pela terna canção "Hino ao amor", imortalizada na voz incomum de Edith Piaf. Um filme para ser visto com o coração na mão.

Visto no Estação Net Botafogo 3, no dia 15/09/2019.
Cotação : 4/5

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CINEFIALHO - 2024 EM 100 FILMES

           C I N E F I A L H O - 2 0 2 4 E M  1 0 0 F I L M E S   Pela primeira vez faço uma lista tão extensa, com 100 filmes. Mas não são 100 filmes aleatórios, o que os une são as salas de cinema. Creio que 2024 tenha sido, dos últimos anos, o mais transformador, por marcar o início de uma reconexão do público (seja lá o que se entende por isso) com o espaço físico do cinema, com o rito (por mais que o celular e as conversas de sala de estar ainda poluam essa retomada) de assistir um filme na tela grande. Apenas um filme da lista (eu amo exceções) não foi exibido no circuito brasileiro de salas de cinema, o de Clint Eastwood ( Jurado Nº 2 ). Até como uma forma de protesto e respeito, me reservei ao direito de pô-lo aqui. Como um diretor com a importância dele, não teve seu filme exibido na tela grande, indo direto para o streaming? Ainda mais que até os streamings hoje já veem a possibilidade positiva de lançar o filme antes no cinema, inclusiv...

AINDA ESTOU AQUI (2024) Dir. Walter Salles

Texto por Marco Fialho Tem filmes que antes de tudo se estabelecem como vetores simbólicos e mais do que falar de uma época, talvez suas forças advenham de um forte diálogo com o tempo presente. Para mim, é o caso de Ainda Estou Aqui , de Walter Salles, representante do Brasil na corrida do Oscar 2025. Há no Brasil de hoje uma energia estranha, vinda de setores que entoam uma espécie de canto do cisne da época mais terrível do Brasil contemporâneo: a do regime ditatorial civil e militar (1964-85). Esse é o diálogo que Walter estabelece ao trazer para o cinema uma sensível história baseada no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva. Logo na primeira cena Walter Salles mostra ao que veio. A personagem Eunice (Fernanda Torres) está no mar, bem longe da costa, nadando e relaxando, como aparece também em outras cenas do filme. Mas como um prenúncio, sua paz é perturbada pelo som desconfortável de um helicóptero do exército, que rasga o céu do Leblon em um vôo rasante e ameaçador pela praia. ...

BANDIDA: A NÚMERO UM

Texto de Marco Fialho Logo que inicia o filme Bandida: A Número Um , a primeira impressão que tive foi a de que vinha mais um "favela movie " para conta do cinema brasileiro. Mas depois de transcorrido mais de uma hora de filme, a sensação continuou a mesma. Sim, Bandida: A Número Um é desnecessariamente mais uma obra defasada realizada na terceira década do Século XXI, um filme com cara de vinte anos atrás, e não precisava, pois a história em si poderia ter buscado caminhos narrativos mais criativos e originais, afinal, não é todo dia que temos à disposição um roteiro calcado na história de uma mulher poderosa no mundo do crime.     O diretor João Wainer realiza seu filme a partir do livro A Número Um, de Raquel de Oliveira, em que a autora narra a sua própria história como a primeira dama do tráfico no Morro do Vidigal. A ex-BBB Maria Bomani interpreta muito bem essa mulher forte que conseguiu se impor com inteligência e força perante uma conjuntura do crime inteir...