A política novamente como protagonista em - por Marco Fialho
O terceiro dia do Festival de Cinema de Brasília ratificou e radicalizou mais ainda o perfil político dos filmes. O primeiro longa em exibição, Parque Oeste, dirigido por Fabiana Assis, traz a luta de uma comunidade pelo direito à moradia, acusando diretamente o Governo de Marconi Pirilo pelo massacre impingido aos moradores. Nesse filme a câmera se transforma então em arma para denunciar a agressividade e o desprezo dessa administração pelos populares. Se um governo escolhe um lado, o da especulação, a diretora também faz a sua escolha em ressaltar a luta daquele coletivo por dignidade.
Logo nas primeiras cenas vemos imagens publicitárias de imóveis dos anos 1970, que mostram o quanto e quando essa ideia de indústria avassaladora se impôs com seus interesses econômicos.
O filme tem como protagonista uma mulher ativista, casada com outro ativista que foi assassinado pela polícia do Estado de Goiás. Parque Oeste é desdobramento de um curta-metragem anterior, Real Conquista, nome da comunidade para onde eles foram deslocados depois de expulsos do Parque Oeste.
Parque Oeste mostra a luta insistente de Eronilde, mulher que tenta articular o movimento de resistência dos moradores, em especial nesse novo lar, onde os serviços básicos estão ausentes.
O segundo longa do dia, o Excelentíssimos, dirigido por Douglas Duarte, da mostra paralela Onde estamos e para onde vamos?, veio com muita força política, discutindo o processo de impeachment de Dilma sob o ponto de vista das articulações políticas.
O grande destaque do filme é a sua proposta de montagem que costura detalhadamente os estratagemas do golpe de 2016. O diretor então volta para 2014, para a campanha presidencial para iniciar sua história. É importante ver para poder repensar aquele contexto onde os financiamentos das campanhas, o papel do PSDB e do MDB, antes e depois das eleições repercutem de forma cruel agora em 2018.
Enquanto o filme O Processo, de Maria Augusta Ramos se enreda nos bastidores do impeachment, Excelentíssimos se prende ao papel desempenhado pelos principais partidos envolvidos no contexto do golpe. As manifestações de rua e o comportamento das grandes mídias não aparecem no enredo.
Um destaque em diversos momentos fica a cargo da construção sonora, que consegue nos transmitir sensações de grande tensão. Segundo o diretor Douglas Duarte, a ideia foi criar uma trilha sonora muito próxima dos filmes de terror, como se estivéssemos revivendo aquilo tudo como um pesadelo.
Dificilmente, algum filme terá tantas participações do público nesse festival quanto Excelentíssimos. Aplausos, vaias a golpistas, gritos de Lula livre, de Dilma guerreira foram ressoados durante toda a projeção, chegando até a atrapalhar o entendimento de algumas passagens do filme.
O longa da mostra competitiva foi o brasiliense New Life S.A.. Como o filme estava em casa, a sessão ficou lotada, com muitas pessoas em pé e sentadas no chão para acompanhar a sessão.
Infelizmente, New Life S.A. não convenceu muito e os aplausos tímidos ao final evidenciaram uma decepção da maioria. Apesar de contar com um argumento interessante e potente, sua construção dramatúrgica não emplaca. Há uma tentativa de incorporar, sem sucesso, doses de humor na mise-en-scéne, onde o performático prevalece na narrativa. A crítica social pretendida em relação às elites e seus políticos naufraga cena a cena, pois tudo soa como forçado e artificial, onde a encenação aprisiona a mensagem pretendida.
O filme se perde entre tentar realizar uma crítica às relações familiares e à especulação imobiliária. Mas tudo parece uma reunião de gags que não se harmonizam entre si.
Ao abordar os temas da ganância financeira dos poderosos, New Life S.A. se aproxima de Parque Oeste, cujo tema da especulação imobiliária se avizinha à obra brasiliense. Crise política e luta por território embasaram o terceiro dia em Brasília. Resta esperar até amanhã para ver se essa tendência politicamente contundente permanecerá também no quarto dia do festival.
Escrito na madrugada do dia 17/10/2018.
O terceiro dia do Festival de Cinema de Brasília ratificou e radicalizou mais ainda o perfil político dos filmes. O primeiro longa em exibição, Parque Oeste, dirigido por Fabiana Assis, traz a luta de uma comunidade pelo direito à moradia, acusando diretamente o Governo de Marconi Pirilo pelo massacre impingido aos moradores. Nesse filme a câmera se transforma então em arma para denunciar a agressividade e o desprezo dessa administração pelos populares. Se um governo escolhe um lado, o da especulação, a diretora também faz a sua escolha em ressaltar a luta daquele coletivo por dignidade.
Logo nas primeiras cenas vemos imagens publicitárias de imóveis dos anos 1970, que mostram o quanto e quando essa ideia de indústria avassaladora se impôs com seus interesses econômicos.
O filme tem como protagonista uma mulher ativista, casada com outro ativista que foi assassinado pela polícia do Estado de Goiás. Parque Oeste é desdobramento de um curta-metragem anterior, Real Conquista, nome da comunidade para onde eles foram deslocados depois de expulsos do Parque Oeste.
Parque Oeste mostra a luta insistente de Eronilde, mulher que tenta articular o movimento de resistência dos moradores, em especial nesse novo lar, onde os serviços básicos estão ausentes.
O segundo longa do dia, o Excelentíssimos, dirigido por Douglas Duarte, da mostra paralela Onde estamos e para onde vamos?, veio com muita força política, discutindo o processo de impeachment de Dilma sob o ponto de vista das articulações políticas.
O grande destaque do filme é a sua proposta de montagem que costura detalhadamente os estratagemas do golpe de 2016. O diretor então volta para 2014, para a campanha presidencial para iniciar sua história. É importante ver para poder repensar aquele contexto onde os financiamentos das campanhas, o papel do PSDB e do MDB, antes e depois das eleições repercutem de forma cruel agora em 2018.
Enquanto o filme O Processo, de Maria Augusta Ramos se enreda nos bastidores do impeachment, Excelentíssimos se prende ao papel desempenhado pelos principais partidos envolvidos no contexto do golpe. As manifestações de rua e o comportamento das grandes mídias não aparecem no enredo.
Um destaque em diversos momentos fica a cargo da construção sonora, que consegue nos transmitir sensações de grande tensão. Segundo o diretor Douglas Duarte, a ideia foi criar uma trilha sonora muito próxima dos filmes de terror, como se estivéssemos revivendo aquilo tudo como um pesadelo.
Dificilmente, algum filme terá tantas participações do público nesse festival quanto Excelentíssimos. Aplausos, vaias a golpistas, gritos de Lula livre, de Dilma guerreira foram ressoados durante toda a projeção, chegando até a atrapalhar o entendimento de algumas passagens do filme.
O longa da mostra competitiva foi o brasiliense New Life S.A.. Como o filme estava em casa, a sessão ficou lotada, com muitas pessoas em pé e sentadas no chão para acompanhar a sessão.
Infelizmente, New Life S.A. não convenceu muito e os aplausos tímidos ao final evidenciaram uma decepção da maioria. Apesar de contar com um argumento interessante e potente, sua construção dramatúrgica não emplaca. Há uma tentativa de incorporar, sem sucesso, doses de humor na mise-en-scéne, onde o performático prevalece na narrativa. A crítica social pretendida em relação às elites e seus políticos naufraga cena a cena, pois tudo soa como forçado e artificial, onde a encenação aprisiona a mensagem pretendida.
O filme se perde entre tentar realizar uma crítica às relações familiares e à especulação imobiliária. Mas tudo parece uma reunião de gags que não se harmonizam entre si.
Ao abordar os temas da ganância financeira dos poderosos, New Life S.A. se aproxima de Parque Oeste, cujo tema da especulação imobiliária se avizinha à obra brasiliense. Crise política e luta por território embasaram o terceiro dia em Brasília. Resta esperar até amanhã para ver se essa tendência politicamente contundente permanecerá também no quarto dia do festival.
Escrito na madrugada do dia 17/10/2018.
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