Os experimentais e o político: eis o quinto dia do Festival de Brasília
Por Marco Fialho
Dos três filmes vistos no quinto dia do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, dois dialogam com uma linguagem experimental: "Espera" e "Calipso". O primeiro exibido na mostra Festival dos festivais e o segundo na Caleidoscópio. O terceiro a completar o dia foi o documentário "Bloqueio", pertencente a mostra competitiva.
A obra-prima de Cao Guimarães, "Espera" pode ser lida numa postagem inteiramente dedicada a ela. Leia no link: https://cinefialho.blogspot.com/2018/09/espera-direcao-de-cao-guimaraes.html?m=1
A outra obra que dialoga com o experimental, "Calipso", dirigida por Rodrigo Lima e Lucas Parente, possui uma proposta esteticamente ousada e de difícil comunicação com o público. Livremente inspirada no mito grego de Calipso, a deusa que vive numa ilha e seduz o valente Ulisses. O filme é uma tentativa de atualização desse mito à paisagem carioca. Os diretores exploram uma linguagem poética, que nem sempre funciona, por soar pedante e impenetrável na maioria das vezes. Talvez com um texto introdutório sobre o que seria o mito de Calipso.
Os diretores abusam das metáforas e elementos simbólicos, mas não conseguem ir além deles, o que torna tudo bastante superficial. Rituais selvagens, filme de Bressane, pássaros, aviões, grutas e montanhas se alternam, enquanto ouvimos uma bela obra de Vila-Lobos cantada divinamente por Bidu Sayão, mas tudo sem muita potência ao final. Há contraposições de imagens que apontam para as contradições entre o mundo industrial e o natural (primitivo), porém, são traços imprecisos que não conseguem nos levar para nenhuma terra firme, nem tão pouco nos faz voar. Se sobra referências estéticas fica faltando elementos que dêem algo para além das sensações propostas.
Já "Bloqueio" trata da greve dos caminhoneiros que parou o Brasil recentemente. Os diretores Victoria Alvarez e Quentin Delaroche se embrenham nesse movimento em Soropédica, no Rio de Janeiro, para nos mostrar suas reivindicações e seus pensamentos rasteiros sobre o Brasil dos últimos anos.
O filme revela o lado assombroso desses caminhoneiros, que cantam o hino nacional e pedem intervenção militar. Há momentos onde as contradições de pensamento são mostradas de forma contundente, como a hora em que os militares, seus ídolos e modelo de retidão, reagem lhes negando diálogo durante a negociação com eles. Fica claro uma certa dose de ironia e a plateia do cinema solta boas gargalhadas pelo ridículo das situações mostradas no filme.
Infelizmente, o filme repete muito as informações e nos dá a impressão que poderíamos ter em mãos um curta, onde todas as mensagens poderiam estar ali e talvez até com mais força. Com "Bloqueio", o Festival de Brasília volta para as pautas políticas e acende novamente a participação da plateia, ávida por interagir nessa reta final das eleições para presidente.
Escrito na madrugada do dia 19/09.
Por Marco Fialho
Dos três filmes vistos no quinto dia do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, dois dialogam com uma linguagem experimental: "Espera" e "Calipso". O primeiro exibido na mostra Festival dos festivais e o segundo na Caleidoscópio. O terceiro a completar o dia foi o documentário "Bloqueio", pertencente a mostra competitiva.
A obra-prima de Cao Guimarães, "Espera" pode ser lida numa postagem inteiramente dedicada a ela. Leia no link: https://cinefialho.blogspot.com/2018/09/espera-direcao-de-cao-guimaraes.html?m=1
A outra obra que dialoga com o experimental, "Calipso", dirigida por Rodrigo Lima e Lucas Parente, possui uma proposta esteticamente ousada e de difícil comunicação com o público. Livremente inspirada no mito grego de Calipso, a deusa que vive numa ilha e seduz o valente Ulisses. O filme é uma tentativa de atualização desse mito à paisagem carioca. Os diretores exploram uma linguagem poética, que nem sempre funciona, por soar pedante e impenetrável na maioria das vezes. Talvez com um texto introdutório sobre o que seria o mito de Calipso.
Os diretores abusam das metáforas e elementos simbólicos, mas não conseguem ir além deles, o que torna tudo bastante superficial. Rituais selvagens, filme de Bressane, pássaros, aviões, grutas e montanhas se alternam, enquanto ouvimos uma bela obra de Vila-Lobos cantada divinamente por Bidu Sayão, mas tudo sem muita potência ao final. Há contraposições de imagens que apontam para as contradições entre o mundo industrial e o natural (primitivo), porém, são traços imprecisos que não conseguem nos levar para nenhuma terra firme, nem tão pouco nos faz voar. Se sobra referências estéticas fica faltando elementos que dêem algo para além das sensações propostas.
Já "Bloqueio" trata da greve dos caminhoneiros que parou o Brasil recentemente. Os diretores Victoria Alvarez e Quentin Delaroche se embrenham nesse movimento em Soropédica, no Rio de Janeiro, para nos mostrar suas reivindicações e seus pensamentos rasteiros sobre o Brasil dos últimos anos.
O filme revela o lado assombroso desses caminhoneiros, que cantam o hino nacional e pedem intervenção militar. Há momentos onde as contradições de pensamento são mostradas de forma contundente, como a hora em que os militares, seus ídolos e modelo de retidão, reagem lhes negando diálogo durante a negociação com eles. Fica claro uma certa dose de ironia e a plateia do cinema solta boas gargalhadas pelo ridículo das situações mostradas no filme.
Infelizmente, o filme repete muito as informações e nos dá a impressão que poderíamos ter em mãos um curta, onde todas as mensagens poderiam estar ali e talvez até com mais força. Com "Bloqueio", o Festival de Brasília volta para as pautas políticas e acende novamente a participação da plateia, ávida por interagir nessa reta final das eleições para presidente.
Escrito na madrugada do dia 19/09.
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