O corpo como protagonista em Brasília
O outro longa visto, O pequeno mal, dirigido por Lucas Camargo de Barros e Nicolas Thomé Zetune, que abriu a mostra paralela Caleidoscópio, inclina-se a uma vertente ficcional mais espelhada em formas de desconstrução narrativa, ou melhor, de sua fragmentação, porém não de sua total dissolução.
Um dos pontos questionáveis do filme está assentado numa necessidade dos diretores em dar um fechamento para a história. Cabe aos espectadores o papel de juntar o quebra-cabeça proposto. O que ao nosso ver enfraquece o filme, ou o que retira sua potência estetica, é o fato de que ao completar o que está nos sendo mostrado fragmentado tudo se encaixa, e portanto, nada mais cabe refletir, já que pouco sobra para ser confrontado pelo espectador. Por isso podemos nomear esse tipo de abordagem a um filme-desafio ou um filme-charada.
Logo no início de O pequeno mal há uma reportagem sobre o desabamento ocorrido em uma obra do metrô de São Paulo em 2007. Essa metáfora do desabamento, inicialmente introduzida na história, infelizmente vai se esvaindo no restante do filme.
Mas a temática do corpo predominou nesse quarto dia de festival. Na abertura da mostra paralela Festival dos festivais, o documentário Fabiana. A diretora Brunna Laboissière, acompanha a última viagem a trabalho da caminhoneira Fabiana, uma mulher trans, não binária, 56 anos e com atração sexual por mulheres.
A beleza desse filme está na sua construção do tempo pela montagem. A relação da personagem com a câmera permite lentamente uma aproximação com o universo da protagonista, o dia a dia com outros caminhoneiros e com suas paqueras e namorada Priscila. Talvez, o maior problema do filme esteja justamente quando há um deslocamento do protagonismo para a namorada Priscila, que de repente nos tira do mergulho que fazíamos até então com a personagem Fabiana. Esse fato quebra drasticamente uma relação que o filme vinha trabalhando com os espectadores uma intimidade e cumplicidade com Fabiana, o que impacta na potência do resultado alcançado pela diretora.
Na mostra competitiva, o filme da noite foi Luna, dirigido por Cris Azzi, uma obra delicada sobre a relação entre duas meninas e um incidente de bullying na escola. Destaque para as atuações de Eduarda Fernandes e Ana Paula Ligeiro, com interpretações que privilegiam olhares e sutilezas. Há um quê de onírico na atmosfera do filme, fundamental a reflexão proposta pela obra sobre o imaginário repleto de descobertas das duas protagonistas. Questões ligadas a machismo, assédio, e formas de violência contra a mulher estão presentes em Luna.
O que foi muito comentado, inclusive no debate, foi o final surpreendente, que levou o público ao delirio, mas que trouxe alguns questionamentos por parte dos críticos presentes.
Escrito na manhã do dia 18/09.
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