A força estilística e política de Wes Anderson
Texto de Marco Fialho
Wes Anderson antes de tudo é um estilista. Seja na animação ou na live-action sua forma de ver o cinema é única e orgânica. Em "A ilha dos cachorros" não é diferente, o que prevalece é o jeito Wes Anderson de fazer cinema.
A forma de movimentar a câmera paralelamente ao cenário e os enquadramentos rigorosos de Anderson pertencem a um tipo de exercício, onde a repetição tem como missão o aprimoramento de seu estilo. Mas Anderson não é tão somente isso, um artesão em busca de um certo perfeccionismo. Ele consegue sempre inserir elementos que nos movem a querer assistir seu próximo filme. Em "Ilha de cachorros" ele realiza seu filme mais político, uma metáfora interessante sobre a dominação das massas por uma elite poderosa, de como poucos conseguem implantar um regime autoritário por um convencimento manipulador, pela fabricação de embustes sociais.
A técnica de animação em stop-motion de "Ilha dos cachorros" é perfeita, e de resto tudo tem um acabamento impressionante, os movimentos são de uma exatidão absurda. Anderson consegue estabelecer e explorar uma narrativa de aventura cômica sem se perder na mensagem que quer comunicar. Aqui, entretenimento casa-se exemplarmente com crítica social, há um propósito claro de um não apagar o outro. Vários recursos narrativos são utilizados de forma a dinamizar e enriquecer o roteiro, como os criativos e agéis flashbacks inseridos de forma a não atrapalhar o ritmo do filme. As vozes de grandes atores garantem e seguram a força interpretativa dos personagens, com destaque para Scarlatt Johansson (apesar do papel secundário), Bryan Cranston e Edward Norton.
Anderson constrói minuciosamente dois mundos de forma muito evidente. De um lado o mundo de quem exerce o poder e de quem está enquadrado nele, de outro os dos excluídos que vivem literalmente mergulhados no lixo, e não esquece também dos inconformados, pois sem eles o mundo seria sempre um eterno moto-contínuo. Mas o diretor sabe onde exatamente colocar pitadas de humor para não permitir que sua trama se reduza a um mero duelo pueril do bem contra o mal.
No caso do filme, a própria ideia de ilha já insinua uma metáfora da exclusão, um pensamento xenófobo de que uns precisam ser excluídos para outros poderem existir e reinar, nos mostra que a diferença precisa ser não só encarada como ultrapassada. Dessa forma, Wes Anderson nos brinda com uma obra inteligente, divertida e que traz reflexões fundamentais para os nossos cinzentos dias, onde a intolerância, a mentira e desrespeito à alteridade precisam ser combatidos urgentemente, pois eles estão presentes em diversos lugares do planeta, inclusive pelas bandas brasileiras.
Visto no Estação Net Rio 4, no dia 21/07/2018.
Cotação: Cotação: 4/5
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