A vitória do conservadorismo sobre Sebastián Lelio
Após o sucesso internacional retumbante de "Uma Mulher Fantástica", o próximo trabalho de Sebastián Lelio era muito aguardado. Poucos meses depois de ganhar o Oscar ele chega com "Desobediência". Dessa vez ele aborda um romance entre duas mulheres, mas agrega à história o universo conservador da tradição judaica.
No início de "Desobediência" tudo nos faz acreditar que muitos tabus serão fortemente enfrentados, afinal Ronit, personagem da sempre excelente Raquel Weisz, volta para a sua cidade natal depois da morte do pai e líder religioso, o rabino Rad. Ela é recebida com grande desconfiança tanto pela família quanto pela comunidade judaica. Logo de início o que se desenha é a independência de Ronit afrontando a todos, o que reafirma seu enfrentamento dos rígidos padrões sociais dessa comunidade. Lelio lentamente vai nos oferecendo informações sobre os personagens e assim vamos nos familiarizando com o contexto, o que é muito animador. O seu reencontro com a enigmática Esti (Rachel Mc Adams), sua paixão de adolescência, é explosiva, já que ela está casada com seu amigo de infância Dovid, todos pertencentes da mesma congregação religiosa.
Aos poucos podemos observar o cuidado da fotografia e da direção de arte em criar um padrão de imagem que muito dizem sobre o contexto do que está sendo narrado. A predominância das cores sóbrias expressa uma atmosfera onde a ousadia nos costumes passa longe. O bege, o marrom e preto imperam na cenografia e no figurino. Há uma visível supressão das cores quentes e vivas, o que reforça o ambiente de aparente claustro. Esse é um lado positivo do filme, pois tudo isso não impede que aconteçam as subversões à rigidez religiosa.
Na verdade, as cores quentes estão presentes no interior das duas personagens que se amam com todas as cores possíveis. Inclusive a cena de sexo entre as duas é primorosa, uma das mais bonitas do cinema. Primeiro porque é anunciada algumas vezes sem acontecer, e depois porque quando efetivamente acontece é filmada de forma magnífica, com uma sensualidade à flor da pele, beijos apaixonados numa explosão de paixão que só uma relação represada há muitos anos pode possibilitar.
A ideia então que permeia o tempo inteiro o filme é o da liberdade de escolha dos personagens, não só das duas protagonistas, mas também do marido traído, que preso nas amarras dogmáticas de sua religião também é empurrado para virar o novo rabino da comunidade. Tudo caminha bem até chegarmos à parte final do filme. Várias situações inverossímeis vão se acumulando, cena a cena. Várias decisões são apressadas, pouco refletidas pela direção e entram em franco desacordo com a proposta ousada anunciada desde o início.
A estrutura dramática da parte final também é bastante contestável. Tudo parece descambar para um típico melodrama, que também fica em desarranjo com o que está posto no início, onde a personagem se comportava de forma empoderada e afirmativa. O conservadorismo para a personagem de Ronit nada representava, em nenhum momento ela se curva a ele, muito pelo contrário, o enfrentava com todo o vigor necessário. As interpretações exageradas do fim esvaziam por completo toda a construção narrativa que estava posta desde o começo do filme. A própria trilha musical também muda sua proposta no final e passa a ser um elemento a salientar as emoções dos personagens, um superlativo bastante desnecessário. De repente, Lelio deliberadamente quer atingir emocionalmente o espectador e essa alteração no tom do filme retira por completo sua força.
Assim, "Desobediência" soa como um passo atrás de Lelio em relação a "Uma Mulher Fantástica" (2017) e até mesmo a "Glória" (2013). Seu dom em trabalhar tanto com personagens quanto com atrizes enfraquece em "Desobediência" ao retirar de Ronit e Esti as suas potências transgressoras. A impressão que fica é que a família tradicional vence, e o pior, vence na cabeça do próprio Sebastián Lelio.
Visto no Estação Botafogo 1, no dia 25 de junho de 2018.
Cotação: 2/5
Desobedience é um filme excelente. Quando eu vi a atriz Rachel McAdams no filme no seu papel eu fiquei muito animada! Vi no cinema e gostei. Foi uma surpresa pra mim, já que foi uma historia muito criativa que usou elementos innovadores. Eu amo o trabalho que Rachel McAdams faz no cinema. É uma boa atriz que geralmente triunfa nos seus filmes. Recém a vi também em Game Night filme e sendo sincero eu acho que a sua atuação é extraordinária, em minha opinião é a atriz mais completa da sua geração, mas infelizmente não é reconhecida como se deve neste filme. Já estou esperando o seu próximo projeto, seguro será um sucesso.
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