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Mostrando postagens de março, 2018

WESTERN - Direção Valeska Grisebach

Muito para além das imagens Crítica de Marco Fialho O ponto forte do filme "Western", dirigido pela alemã Valeska Grisebach, está em algo posto para além da cena. Trata-se de uma obra onde o que não vemos no quadro assume proporções determinantes para o enredo em si. A relação histórica entre Alemanha e Bulgária contorna permanentemente o que acontece em cena e protagoniza diversos conflitos desencadeados em "Western". O que proponho então é pensá-lo tendo como referência sempre o extra-campo. Desse ponto de vista, o próprio título "Western" se torna mais um elemento a ser visto e refletido. Qual seria a analogia a ser feita? Afinal, várias são possíveis e a Alemanha sequer é um país fronteiriço à Bulgária. Mas em se falando disso, o que seriam as fronteiras do mundo de hoje? E as que existem, o que elas determinam e delimitam exatamente? Mas esse é um daqueles filmes muito mais para nos desafiar do que para obtermos respostas rápidas, ideais p...

PROJETO FLÓRIDA - Direção Sean Baker

A Disney e seu avesso Crítica de Marco Fialho Tem filmes que começam engraçadinhos, quase despretensiosamente, como quem não quer nada. Só que a cada nova sequência tudo vai se avolumando até virar uma poderosa avalanche. Assim pode ser definido "Projeto Flórida", dirigido por Sean Baker, o mesmo diretor que antes assinou nada menos que "Tangerine", primeiro longa-metragem lançado comercialmente inteiramente realizado com câmeras de iphone. Nessa nova obra ele vem reafirmar seu talento para filmar personagens que se movimentam muito em cena. Tal como "Tangerine", Baker se entrega a uma personagem egressa de uma penitenciária, reafirmando a perspectiva dos excluídos e marginalizados pelo sistema. E ele o faz injetando em suas personagens uma dose de indignação profunda em relação a sua posição na sociedade. O que vemos em "Projeto Flórida" é um sistema dedicado e competente em vigiar e punir, entretanto, contraditoriamente frágil na assist...

TRAMA FANTASMA - Direção Paul Thomas Anderson

O poder da intimidade desnudada  Crítica de Marco Fialho A "Trama Fantasma" é o filme mais maduro de Paul Thomas Anderson. Definitivamente feito para gente grande. Uma obra repleta de sutilezas, jogos cinematográficos e ardis humanos. Visualmente é impecável, de um requinte raramente visto, uma obra-prima ímpar, tamanho seu rigor. É um deleite de ver e de pensar nas suas estruturas: imagéticas, sonoras, narrativas, interpretativas, simbólicas, psicológicas, filosóficas, enfim, um mar envolto de camadas de significados e significantes. O que ficamos nos perguntando o tempo todo durante a projeção é se prestamos atenção na superfície ou se buscamos as sombras mais profundas, mais recônditas. Nos enredamos no tátil ou divagamos em sua atmosfera? Todo o  começo do filme foi pensado para se construir uma atmosfera, uma ambiência de classe. Nela, a forma também se estabelece como conteúdo, como mensagem. Não à toa a personagem de Daniel Day Lewis, Reynold Woodcock, é um est...