Uma pequena Frida à
beira de um ataque de nervos
Crítica de Marco Fialho
A pequena Laia
Artigas, protagonista de “Verão 1993” atua como se fosse uma atriz veterana ao
interpretar a personagem Frida. E Frida é, sem dúvida, o maior
atrativo dessa película espanhola, dirigida por Carla Simón, e representante
oficial da Espanha na corrida pelo Oscar de melhor filme em língua não inglesa em 2018.
Uma das grandes
marcas desse longa é a delicadeza e a sutileza de sua realização, mesmo
considerando o espinhoso tema do filme, o da adaptação de uma criança órfã a um
novo ambiente familiar. Daí o filme depender tanto da jovem Artigas para se
afirmar como obra.
Há algo de encantador
no cenário desse filme, em especial o predomínio do verde e do mundo natural.
Esse ambiente mostra-se muito propício para que Frida se sinta estimulada a
expor uma personalidade forte, movida pelo instinto mais do que pela razão. Ou será que os aspectos perversos dela traduzem a
própria natureza humana, normalmente educada para o exercício contínuo de
esconder estrategicamente sua crueldade? Ou será ainda que a vida com sua
imprevisibilidade e aspereza contribuíram para que algumas reações de Frida
sejam tão frias e dissimuladas? A resposta pouco importa, pois a riqueza desse filme e dessa personagem Frida residem justamente nos recantos mais recônditos e misteriosos do ser.
Narrativamente, o filme se constrói
ao nível das relações cotidianas, oscilando entre momentos de afetividade e de
conflitos mais exacerbados. A perda de um ente querido não é algo fácil de
administrar, mas torna-se ainda mais complexo quando acontece com uma criança.
E as manifestações de revolta e insatisfação de Frida devem ser entendidas pelo
viés da sobrevivência em um ambiente que lhe é emocionalmente desfavorável. E por isso mesmo, ela nos soa tão selvagem, sedutora e irresistível.
Todas as relações que
testemunhamos no decorrer de “Verão 1993” têm Frida como o
centro das atenções, as que tenta desenvolver com os tios, aos quais ela parece chamar forçosamente de pais, a com os avós, com quem tenta restabelecer
um elo perdido, e por fim sua nova irmã, que em muitas horas se transforma em
uma concorrente ao carinho dos novos pais. O filme se equilibra assim, nesses
milimétricos fios tênues, na tentativa de se criar vínculos potentes onde
impera a fragilidade emocional.
Frida é uma pérola, um achado surpreendente. Um personagem que funciona como ímã ao nossos olhos. Laia Artigas demonstra ter uma capacidade interpretativa impressionante. Seu olhar substitui palavras, expressa sentimentos e desejos. Ela é uma descoberta tão fantástica que me lembrou Ana Torrent, a atriz mirim, também espanhola, que brilhou em filmes como "Cria Cuervos" (Carlos Saura) e o "Espírito da Colmeia" (Victor Enrice), realmente um achado.
Frida é uma pérola, um achado surpreendente. Um personagem que funciona como ímã ao nossos olhos. Laia Artigas demonstra ter uma capacidade interpretativa impressionante. Seu olhar substitui palavras, expressa sentimentos e desejos. Ela é uma descoberta tão fantástica que me lembrou Ana Torrent, a atriz mirim, também espanhola, que brilhou em filmes como "Cria Cuervos" (Carlos Saura) e o "Espírito da Colmeia" (Victor Enrice), realmente um achado.
Mas "Verão 1993” pode ser
visto como um filme em processo, de uma procura de um sentido formal, pois Carla Simón parece
buscar sua obra no próprio exercício de seu fazer, descobrindo junto com seus
atores, principalmente os infantis, uma verdade no ato da filmagem, realizado em um ambiente hostil para equipe e personagens. Frida tenta
entender as adversidades apresentadas a sua revelia pelo mundo e o grande
mérito da diretora é permitir que isso aconteça na tela com a maior dose de
veracidade possível.
Visto no Estação Net
2, no dia 9 de dezembro de 2017.
Cotação: 3 e meio/5
Cotação: 3 e meio/5
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