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Mostrando postagens de dezembro, 2024

MARIA CALLAS (2024) Dir. Pablo Larraín

Texto por Carmela Fialho e Marco Fialho O filme Maria Callas é uma cinebiografia que tem como protagonista Angelina Jolie. A opção do diretor Pablo Larraín foi construir uma narrativa a partir da última semana de vida da famosa soprano greco-americana, que arrebatou fãs para as suas apresentações de ópera pelo mundo. A escolha em retratar a personagem no final de sua vida traz algumas questões que merecem destaque como a perda da sua potente voz, a dependência a medicamentos e momentos de alucinações.   A interpretação de Angelina Jolie oscila entre a postura de uma diva arrogante, que desconta no seu mordomo os traumas da perda da voz e consequentemente da sua fama, e uma mulher depressiva cheia de angústias e lembranças dolorosas, principalmente do fracassado relacionamento com o milionário grego Aristóteles Onassis. O foco principal do filme recai mais nesse desastroso relacionamento, como se Maria Callas nunca tivesse sido feliz. Os momentos de glamour ficaram reservado...

ASSASSINA (2024) Dir. Eva Nathena

Texto por Marco Fialho O cinema grego, em especial o que eclodiu na segunda década do século XXI, é conhecido pela contundência e pela maneira extrema pela qual se posiciona frente à organização social da Grécia, o que na maioria das vezes afasta o público que comumente vê o cinema como mero entretenimento e passatempo. A dureza da narrativa vem ditando uma forma eloquente de se contar histórias.  E é bom dizer que essa história não foi sempre assim, basta pensar no cinema de Michael Cacoyannis (Zorba, o Grego) e Theo Angelopoulos (Paisagem na Neblina, A Viagem dos Comediantes e A Eternidade e Um Dia). Se existia uma ternura que pairava sobre esses filmes, como explicar o caminho atual trilhado pelo cinema grego? A distância estética é bem mais profunda entre um Lanthimos e um Angelopoulos do que os poucos anos que separam suas obras. Da delicadeza máxima, da sutileza absoluta partiu-se para uma violência tão explícita que ela se coloca já no primeiro segundo da narrativa de um Den...

TOUCH (2024) Dir. Baltasar Kormákur

Texto de Marco Fialho Touch pode até ser uma história já manjada, em que o protagonista embarca em uma viagem inspirada em suas memórias, mas ainda assim, não deixa de ser fascinante. O filme passeia entre o final dos inebriantes anos 1960 até a eclosão da pandemia do Coronavírus em 2020, épocas bem destoantes tanto para o protagonista Kristófer quanto historicamente para a humanidade, e é nessa dicotomia que o filme mais cresce e se estabelece.  Há um sentimento constante de melancolia impregnando cada cena de Touch , em especial quando sabemos de antemão que Kristófer está só em 2020 e vai atrás de uma história luminosa que viveu em 1969, quando estava em Londres para estudar Economia e acabou trabalhando em um restaurante japonês. Tudo porque lá ele conhece Miko, a jovem filha do dono do restaurante, por quem se apaixona perdidamente. Miko foi gestada logo após a bomba atômica em Hiroshima, sua cidade natal, e essa circunstância vai impactar também decididamente no seu futuro. A...

QUEER (2024) Dir. Luca Guadagnino

Texto por Marco Fialho O que mais me agradou em Queer , novo trabalho do diretor Luca Guadagnino, é a sua aposta de levar ao espectador a experiência existencial do personagem W. Lee, uma espécie de alter ego do escritor beatnik William S. Burroughs. O filme busca uma fidelidade espiritual ao autor literário, resgatar em especial a mente conturbada e obstinada de Burroughs. É necessário entender que o livro Queer foi escrito em 1952, embora só tenha sido publicado depois de mais de trinta anos, nos anos 1980.  Devido à data da criação do texto literário, o próprio sentido da palavra Queer não deve ser lido da mesma maneira que a lemos em 2024, apesar que o filme não se prenda nessa diferenciação e isso fique apenas implícito na narrativa. Lee é vivido por Daniel Craig, que está totalmente imerso em um personagem intenso e emocionalmente fora da curva. Lee é devotado à boemia e antes de tudo um outsider, que viveu sua existência sempre no limite. Luca Guadagnino dividiu o filme em ...

TUDO QUE IMAGINAMOS COMO LUZ (2024) Dir. Payal Kapadia

Texto de Carmela Fialho e Marco Fialho O filme indiano Tudo Que Imaginamos Como Luz da diretora Payal Kapadia, que levou o Grand Prix no Festival de Cannes, foca a sua narrativa na trajetória de duas enfermeiras oriundas de regiões rurais da Índia, que residem na capital Bombaim e trabalham em um mesmo hospital, além de dividirem a mesma residência.  A principal temática do filme é a situação dos casamentos arranjados na sociedade indiana pelos familiares e as infelicidades advindas de tratos de origem patriarcal, que lembram mais acordos financeiros. A tradição aprisiona as mulheres nessa vida de incertezas, pois como aborda o filme uma das enfermeiras teve seu casamento arranjado e nem vive com o marido, que foi para Alemanha há mais de um ano e sequer liga para falar com a esposa. A outra enfermeira, mais jovem, é apaixonada por um rapaz muçulmano e vive uma situação ainda pior, pois encara a questão das diferenças religiosas que impedem a união duradoura do casal.  A suti...

JURADO Nº 2 (2024) Dir. Clint Eastwood

Texto por Marco Fialho O mais recente trabalho do ator e cineasta Clint Eastwood é considerado por muitos um filme de despedida, em especial pelos seus 94 anos de idade. Independente de qualquer juízo,  Jurado Nº 2 é uma típica obra de Clint tanto pelo tema abordado quanto pela forma cinematográfica, mas também, pode-se ainda acrescentar, pela dubiedade na qual tudo é aqui tratado. Existe uma discussão interminável na crítica acerca da primazia da forma ou do conteúdo no cinema e Clint Eastwood é sempre um ótimo cineasta para trazer à baila essa discussão.  Eu considero essa questão de forma e conteúdo como complementares, afinal, um determinado tema vai sempre estar emaranhado em como ele é contado pelos tipos de enquadramentos, montagem, interpretações, enfim, em como o cineasta exibe suas ideias sobre o mundo por meio das expressões cinematográficas que faz uso. Em Jurado Nº 2 , Clint quer trabalhar a relação entre justiça, verdade e indivíduos. Pode parecer um precios...