Texto por Marco Fialho
O Acordo, primeiro longa de ficção dirigido pelo cineasta egípcio Mohamed Rashad, trata de temas fortes e comuns das periferias dos países da América do Sul, Ásia e África, que reúnem favelização, pobreza, tráfico de drogas, exploração da mão-de-obra, falta de escolaridade juvenil, famílias sem a presença paterna e violência.
Em O Acordo, os jovens Hossam e Maro não estudam, apenas precisam trabalhar para ajudar a manter o lar onde a mãe doente tem não condições de laborar por ter um problema grave de inchaço do pé. O pai deles, Sayed, trabalhou numa metalurgia e agora, Hossam, o filho de 22 anos e Maro de 12 anos, herdam o posto do pai, morto em um suposto acidente de trabalho.
Mohamed Rashad realiza um filme repleto de realismo, em que salienta as condições econômicas difíceis da família, a casa pobre e a necessidade de aceitar o jogo posto pelo sistema a eles. Hossam teve no passado adolescente uma relação com o tráfico, mas agora quer trilhar o caminho do trabalho e servir de espelho para o seu irmão mais novo. As interpretações precisas dos atores principais reafirma a força da narrativa rascante e direta que o diretor implementa para o filme.
O forte de O Acordo é como Mohamed Rashad constrói a vida desses personagens como uma prisão impossível de sair. O patrão Karim, dono da fábrica, quer usar a influência de Hossam com o mundo das drogas e fazer um esquema paralelo em que somente ele ganhe lucros. Hossam teme dizer não e perder o emprego, mas teme igualmente voltar a ter relações com o tráfico de drogas. É uma situação complicada, de decisões que fatalmente levarão a mais tragédias para a sua família.
Mohamed Rashad propõe uma mise-en-scène simples e pragmática, onde a câmera salienta o aprisionamento dos personagens, com imagens quase todas filmadas na fábrica, na casa de Hossam e nas ruas da comunidade pobre em que vive. A tensão da vida dura, sem maiores perspectivas de futuro, só é quebrada por uma possibilidade de romance com Ebeer, uma moça que trabalha na fábrica que se atrai por ele, embora tenha medo de se apresentar a Hossam devido ao seu passado.
Os conflitos de trabalho permeiam O Acordo, com diversas cenas de discussões, brigas e mortes no ambiente da fábrica. A desconfiança pelo passado ronda a vida de Hossam, assim como a descoberta que seu pai pode ter sido assassinado no trabalho. Karim faz o protótipo do patrão interesseiro e mau-caráter, que gosta de jogar a poeira para debaixo do tapete e se mostra sem escrúpulos quando o assunto é se dar bem às custas de quem precisa sustentar a família.
A dureza da fotografia de O Acordo mostra como esse filme tem como grande característica discutir a penosa e aviltante situação da classe trabalhadora no Egito e deixa evidente quem mais perde no jogo cotidiano da vida. Um cinema político que escancara os desmandos dos empresários e a humilhação de quem precisa trabalhar e lutar por uma vida digna longe do crime.

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